Rio - A greve geral de sexta-feira foi histórica. Quase um terço dos trabalhadores do Brasil cruzou os braços em todo o país, e muitos foram aos protestos nas capitais. Atos recentes já vinham agregando setores mais amplos do que aqueles contra o golpe em 2016. Suas pautas, como os direitos trabalhistas e a preservação da possibilidade real de se aposentar, são mais concretas e motivam o engajamento também daqueles que não entendiam a gravidade de um impeachment sem motivo.
Os transportes foram drasticamente reduzidos ou paralisados, o movimento no comércio despencou, ruas ficaram às moscas no Centro de várias cidades. A crítica de que greve atrapalha as pessoas é hipócrita: greve é um instrumento constitucional de pressão dos trabalhadores. Greves que deixam tudo funcionar normalmente não adiantam.
Novamente, parte da imprensa manipulou a informação para reduzir o impacto do feito conquistado pelos manifestantes e negar sua legitimidade. Enfatizou a destruição de ônibus e vidraças de bancos, construindo a falsa narrativa de que a Polícia Militar apenas reagiu para proteger a sociedade de arruaceiros, e de que houve confronto entre dois lados. O que realmente ocorreu no Rio e em outros lugares foi um massacre. O ato organizado no Rio foi impedido violentamente já em seu início na Alerj.
Conforme os manifestantes, que apenas defendiam pacificamente seus direitos trabalhistas e previdenciários, iam para outras áreas do Centro, como Candelária, Cinelândia e Lapa, os policiais os seguiam, encurralavam, de tocaia, jogando gás, atirando balas de borracha. Lançaram bombas contra as pessoas até de cima do helicóptero.
Desde o golpe de 2016 o Brasil tem uma ditadura civil. Como a repressão não era forte, muitos recusavam chamar assim o governo, preferindo termos leves como “golpista” ou “ilegítimo”. Mas após o massacre de 28 de abril as máscaras da ditadura caíram. Quanto aos black blocs, mesmo discordando que seus métodos sejam os melhores, como dizer que estão errados e são os vilões quando o aparato de repressão policial ataca indiscriminadamente todos os que saíram às ruas para exercer seus direitos políticos?
?Guilherme Simões Reis é professor da Unirio