Rio - A decisão do presidente Trump de sair do Acordo de Paris já era esperada. É uma notícia ruim para o mundo e pior ainda para os Estados Unidos.
A mudança global do clima é uma realidade, tem causados sérios impactos em todo o mundo, e a sociedade americana terá menos apoio do governo para investir em sua segurança contra eventos climáticos extremos e também terá menos apoio para investir na competitividade dos negócios em um mundo de baixo carbono.
Mesmo com todos os compromissos assumidos pelos mais de 140 países que ratificaram o Acordo de Paris na 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP21), o mundo ainda está longe de alcançar o objetivo de evitar que a temperatura média do planeta não aumente em dois graus Celsius até o fim do século, e fique o mais próxima possível de 1,5 grau Celsius acima da temperatura média do planeta antes da revolução industrial.
Já registramos o aumento de um grau até agora, e todas as metas juntas, incluindo as dos Estados Unidos, nos levam para um cenário acima dos três graus Celsius até o fim do século.
Não se pode esperar nada além de protagonismo dos Estados Unidos, maior emissor histórico de gases de efeito estufa, uma das maiores economias do mundo, na luta contra esse grande desafio da humanidade.
Duas décadas atrás, quando o presidente Bush não ratificara o Protocolo de Quioto, os Estados Unidos representavam cerca de um terço das emissões globais. Atualmente, as emissões americanas representam cerca de 15% de todas as emissões globais.
Naquele tempo se falava dos impactos que a mudança do clima poderia gerar; hoje, falamos dos impactos que estamos sofrendo e sobre adotar ações que nos ajudem, além de aumentar a resiliência para diminuir os impactos, que têm sido cada vez maiores.
Naquela época, apenas os países desenvolvidos (menos de 40) tinham metas de redução de emissões, em contraponto com as mais de 140 nações signatárias do Acordo de Paris.
O presidente Donald Trump já havia se mostrado “independente” quando assinou o decreto que desmonta o Plano de Energia Limpa dos EUA, aprovado pelo antecessor, Barack Obama, em 2015, e que criava incentivos para o avanço de fontes de energia não baseadas em combustíveis fósseis.
Sob argumentos contestáveis de retomada de postos de trabalho, Trump deu um passo atrás e em falso ao tirar restrições do setor de carvão mineral, que é uma das fontes de energia mais poluentes.
A energia solar e a eólica, os veículos elétricos e muitas outras tecnologias de baixo carbono chegaram para ficar, ao passo que a era do petróleo tem seus dias contados. A mudança global do clima é um dos maiores desafios do século 21, que traz tanto prejuízos quanto oportunidades. Trump, infelizmente, foca apenas no lado negativo.
Ele fecha os olhos para o fato de que o mundo está em transformação, rumo a um futuro mais sustentável e a uma nova economia de baixo carbono. Os custos de reparar danos como esses serão maiores que o investimento em ações para evitá-los — como já comprovou em 2006 o economista britânico do Banco Mundial Nicholas Stern.
Ademais, se a adaptação fosse feita aproveitando o potencial que os ambientes naturais têm para tornar as sociedades mais resilientes, haveria custo ainda menor e benefícios adicionais, como demonstra o estudo de adaptação baseada em Ecossistemas elaborado pela Fundação Grupo Boticário.
A mudança global do clima é uma das três principais causas de perda de biodiversidade no mundo, juntamente com a perda de habitats e a invasão biológica, sendo que as outras duas causas são ainda mais potencializadas pela mudança do clima.
Por outro lado, a biodiversidade tem papel relevante na mitigação e na adaptação à mudança climática. A preservação e a restauração de áreas naturais promovem a absorção do carbono em excesso na atmosfera e o armazena na biomassa vegetal, contribuindo para a mitigação.
Ecossistemas conservados são essenciais para manter e aumentar a resiliência da sociedade aos impactos da mudança do clima. Quanto melhor estiver o funcionamento dos ecossistemas, menores serão os impactos.
André Ferretti é coordenador do Observatório do Clima