Rio - As últimas semanas mostraram a entrada em cena de Hillary, na mobilização do Partido Democrata, frente ao desgoverno de Trump. No mesmo cenário, e ineditamente, reuniram-se os ex-presidentes americanos, com o alerta contra a crescente violação dos direitos humanos pelo atual presidente, trazida à Suprema Corte. Seu apoio popular míngua na imprevisibilidade da sua iniciativa do dia seguinte.
Muitos perguntam, num país de assassinatos dos chefes do Executivo, da chegada da vez de Trump. Avança também o espanto quanto à inexistência, até agora, de pedidos de impeachment, num quadro de mal-estar crescente frente às condenações do Judiciário.
No âmbito da consciência cidadã, configura-se a crescente ameaça aos direitos humanos do povo americano. No confronto continuado com o México, determina Trump que só considerará a concessão de vistos aos nacionais brancos, implantando o racismo nas relações internacionais do país.
O atual isolacionismo americano vai ao desligamento da União Europeia, da Unesco e das organizações ecológicas. O "America First" desliga-se também do que possa ser um consórcio com as potências emergentes na disputa pela hegemonia mundial. A relação com a China depende ainda da possível mediação com a Coreia do Norte, no que seja a nova convivência com o país que alcançou a posse de armamento nuclear e anseia pelo seu reconhecimento internacional.
Nesse quadro de hegemonias em queda e de superpotências emergentes, deparamos a monumentalidade da reunião do Partido Comunista chinês, numa irredutível canonização de seu líder, Xi Jinping, levando-o ao nível profético de Mao Tsé-Tung. E, sobretudo, a saída de toda posição defensiva, em nova liderança propositiva para a nossa pós-modernidade.
Não temos precedente, na história americana, de um isolacionismo da nação desde a sua origem, marcada pelas migrações maciças a partir, historicamente, da configuração de um Ocidente transatlântico e macrocontinental. Trump troca essa desenvoltura por um exercício intransitivo de poder, devolvido aos seus tristes e estéreis pleonasmos.
Candido Mendes é da Academia Brasileira de Letras