Por karilayn.areias

Rio -  A passagem da filósofa norte-americana Judith Butler pelo país causou enorme furor dentro e fora das redes sociais. Em São Paulo, onde debatia democracia, grupos de manifestantes se enfrentavam a favor e contra sua presença. Nas semanas que antecederam o evento, petição foi criada pedindo cancelamento do evento, alcançando mais de 360 mil assinaturas. Acusação? Ela seria mentora intelectual de "ideologia nefasta" que visa a corromper famílias e valores morais tradicionais.

Desfazendo a ‘ideologiade gênero’ no BrasilDivulgação

A histeria gerada pela visita de Butler está longe de ser episódio isolado. O policiamento dos debates sobre "ideologia de gênero" e seu enquadramento como projeto político de esquerda ressaltam a urgência de desfazermos esses discursos de alarme. Ao confundir o ensino sobre gênero com influência à orientação sexual de crianças, os críticos disseminam mitos para ofuscar fatos: o Brasil é recordista em homicídios de homossexuais e transexuais. Estima-se que um indivíduo LGTB é assassinado a cada 25 horas no país, segundo o Grupo Gay da Bahia.

Encarando esses dados, os críticos rebatem alegando a inadequação dessas discussões entre menores. Respondemos então com mais fatos: as escolas brasileiras estão longe de ser um espaço seguro e livre de violências contra minorias sexuais e de gênero. Mais de 70% dos estudantes LGBT já sofreram algum tipo de agressão. Em muitos casos, tais violências são responsáveis pela evasão escolar, com prejuízo do acesso à educação. Diante disso, o Plano Nacional de Educação visava, por meio da incorporação do tema nos currículos escolares, a garantir a esses indivíduos um ambiente seguro e respeitoso de aprendizado.

Com a visita de Butler, o fardo da violência vivenciada por minorias sexuais e de gênero é novamente abafado por distorções que dizem respeito à produção acadêmica da filósofa. O texto da petição chama a atenção nesse sentido ao afirmar que o seu trabalho estaria incitando a livre experimentação sexual.

Cabe esclarecer que o trabalho desenvolvido por Butler não propõe a experimentação de determinados comportamentos sexuais, nem que identidades de gênero possam ser livremente escolhidas. Ao contrário, o gênero segundo a autora não é um papel que elegemos tal qual uma vestimenta. Para Butler, indivíduos já se encontram limitados por discursos de gênero que estão fadados a repetir e imitar. Ironicamente, portanto, não é Butler, mas, sim, aqueles que se opõem às suas ideias, que tratam o gênero e a sexualidade como algo que o sistema de ensino tem o poder de modificar.

 

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