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Por O Dia

Rio - Já visitamos esse tema, tempos atrás, mas os muitos exemplos nos levam a revisitá-lo. A motivação veio de uma conversa que tive com uma vizinha que, sabendo que sou professor e que faço formação dos profissionais da escola, perguntou-me se algo que sentia era real ou só uma impressão. Contou-me que é uma mãe ativamente participante da vida do filho e que, frequentemente, vai a escola saber como o menino anda se comportando. Faz isso porque acha que é seu papel, mas também por ouvir repetidas vezes em reuniões de pais sobre a importância da família na escola. Sua dúvida vem do fato de que sempre que chega à escola sente uma certa má vontade das pessoas em prestar as informações que pede sobre o aluno, um certo empurra-empurra que sempre faz com que ela espere no mínimo meia hora para ser atendida. Disse a ela que tal impressão era resultante do envolvimento de todos em várias tarefas e que ela não desistisse de comparecer à escola.

Claro que não fui totalmente franco em minha resposta. A verdade é que a escola usa o discurso da participação e presença da família, mas, em geral, não parece querer muito essa proximidade. Melhor dizendo, a escola formata essa participação a partir do dever que a família tem de ajudar suas iniciativas. Parece-me que a escola quer apoio da família e não a presença constante conforme prega.

Outra contradição clara tem a ver com o discurso de que a escola quer desenvolver a autonomia do aluno, mas continua apegada a métodos diretivos que não oferecem espaço para que a criança e o jovem tomem decisões ou desenvolvam a iniciativa. Como desenvolver a autonomia, sem exercitar a liberdade, com toda responsabilidade que ela enseja? Desenvolvimento de autonomia requer uma aprendizagem interativa, participativa, que ofereça espaço para erros e acertos e, principalmente espaço para se aprender com os erros.

Por fim, a escola prega o discurso da formação para a vida, mas, em geral, não lida bem com os componentes que desenvolvem as competências necessárias para se viver. Um bom exemplo é a maneira predominantemente punitiva como a escola lida com os conflitos, ao invés de trabalha-los como parte do currículo. Enfim, para ser mais coerente, a escola precisa repensar seus discursos ou melhor, suas atitudes.

Júlio Furtado é professor e escritor

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