Thaís Ferreira, criadora do movimento Mãe & Mais - divulgação
Thaís Ferreira, criadora do movimento Mãe & Maisdivulgação
Por Thaís Ferreira Criadora do movimento Mãe & Mais.

Rio - Mais um. Mais uma criança foi vitimada pela guerra civil que vivenciamos no Rio de Janeiro todos os dias. Desta vez foi o menino Marcos Vinicius, que aos 14 anos foi atingido por um tiro enquanto seguia para a escola, na Maré. Menos uma vida entre nós, menos uma possibilidade de futuro. E, mais uma vez lamentamos: o Brasil segue matando sua mais promissora força, não só de trabalho, mas também de realização, e é preciso falar sobre isso.

O caso de Marcos Vinícius confirma o que os números falam. Dados do último Atlas da Violência, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em junho, mostram que 54% dos homicídios registrados em 2016 foram de jovens entre 15 e 29 anos, período que deveria ser o auge produtivo de suas vidas.

No país, foram 33.590 jovens mortos, enquanto no Rio de Janeiro foram 3.386. O estado é, ainda, o campeão de mortos durante ações policiais: 538 em todo o ano de 2016.

Para os que seguem apenas orientados pelo capital, é bom saber que: um levantamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo federal mostra que a cada jovem entre 13 e 25 anos assassinado, o Brasil perde cerca de R$550 mil. O prejuízo dos últimos 20 anos é estimado em mais de R$ 450 bilhões, cálculo referente à perda da força produtiva, ou seja, quanto o país deixou de ganhar com o "trabalho" que poderia ter sido exercido pelas vítimas da violência.

Se levarmos em consideração que entre 1996 e 2015 os gastos com segurança pública subiram 162%, em valores corrigidos pela inflação, fica ainda mais gritante que algo está errado e a conta não fecha.

O país está jogando vidas fora, vidas que poderiam estar transformando a realidade atual e auxiliando o Brasil a crescer. E não podemos ignorar o fato de que, como também mostram os dados, a maior parte destas mortes tem raça, classe e endereços certos.

Participei este mês, na Suíça, de um workshop realizado pela Fundação Lemann em parceria com a Universidade de Zurique, em que foram discutidos temas como segurança pública, educação infantil e política de drogas. A conclusão que cheguei foi a de que a construção de uma juventude produtiva e não-violenta e/ou violentada passa necessariamente pela atenção às famílias e suas crianças ainda pequenas, em pleno processo de construção mental, física e social.

Perdemos tempo e os recursos mais preciosos enxugando gelo numa guerra sem sentido, quando deveríamos investir mais na prevenção e no acolhimento agora, para termos resultados mais promissores a longo prazo. Até quando seremos imediatistas? Até quando continuaremos a enterrar o nosso futuro?

Thaís Ferreira é criadora do movimento Mãe & Mais

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