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Por Jornalista e escritor

O bairro de Sepetiba já foi o balneário da cidade do Rio de Janeiro, com suas águas calmas e limpas atraindo milhares de pessoas, principalmente no verão, quando várias casas eram alugadas, movimentando a economia local, que vivia basicamente do turismo e da pesca. Na década de 1970, o bairro ficaria mais conhecido ainda com a gravação da novela 'O Bem-Amado', de Dias Gomes, exibida pela TV Globo, com o famoso prefeito Odorico Paraguaçu, interpretado por Paulo Gracindo, proferindo seus discursos repletos de "emborasmentes" no coreto da Praça Washington Luís, que ainda existe e é tombado pelo governo do estado desde 1985.

Tudo isso, no entanto, faz parte do passado. A partir dessa mesma década de 1970, obras de dragagem mal feitas para a construção do Porto de Sepetiba e a instalação de indústrias de metal pesado iniciaram o processo de poluição da baía, agravada com o despejo de esgoto in natura.

Poluída a baía, os turistas foram embora, a pesca sofreu um duro baque e as casas de veraneio se esvaziaram, um processo de decadência que se intensificou até os dias de hoje. Sepetiba não tem hospital, teatro, cinema, livraria, ciclovia, sequer um shopping. Suas três praias (do Cardo, Dona Luísa e Sepetiba) são dominadas pela lama, não mais a lama com a qual os banhistas lambuzavam o corpo antigamente e diziam ter propriedades terapêuticas.

Mas, apesar de tudo, a população reage. E uma das iniciativas mais duradouras e interessantes que conheci já há um bom número de anos é a do Ecomuseu de Sepetiba, que promove vários eventos no bairro, como o Passeio de Reconhecimento e de Ecoturismo, que é gratuito e ocorre sempre no primeiro domingo do mês, às 9 da manhã, partindo do coreto e reunindo pessoas para visitarem o Cais Imperial, a Ilha do Marinheiro (quando a maré está baixa) e realizando ao longo do passeio, que dura em média três horas, palestras sobre a importância histórica da região e ações de conscientização ambiental. O Ecomuseu começou suas atividades em 2009, por iniciativa da professora Bianca Wild, e seu objetivo, como de todo ecomuseu, é estimular a comunidade a desenvolver o território que habita, valorizando o seu patrimônio.

Já participei algumas vezes do passeio e posso garantir que não é muito puxado; há apenas uma pequena subida, para quem quiser, onde chegamos ao Mirante de Sepetiba, de onde se tem uma bela visão da baía. Foi neste passeio também que vi pela primeira vez um sambaqui, que são reservas arqueológicas formadas por conchas, ossos, material calcário e outros ingredientes, e que indicam a localização e o deslocamento dos povos mais antigos a frequentarem aquele local. Sepetiba, na língua tupi, a língua falada pelos índios tupinambás que viveram naquela região, significa "muito sapê", um tipo de vegetação comum na região.

Tudo isso é contado no passeio do Ecomuseu de Sepetiba, além da palestra sobre conscientização ambiental, sobre os motivos da degradação da praia e de como, apesar de tudo o que aconteceu, é importante preservar o que ainda existe. Muitas vezes as caminhadas são feitas com estudantes de escolas do bairro e algumas vezes, no próprio roteiro do primeiro domingo do mês ou em outros, os visitantes recebem sacolas para recolherem o lixo que, infelizmente, ainda é jogado no belo percurso que é feito.

Para a garotada que gosta de histórias de piratas, sempre é mencionado o grande número de corsários e piratas que navegaram pela região, como o francês Jean François Du Clerc, que invadiu o Rio de Janeiro em setembro de 1710 por Barra de Guaratiba, mas antes fez estragos em Angra dos Reis e na Baía de Sepetiba. E para melhorar a autoestima dos moradores é falado sobre o tempo em que Sepetiba fazia parte do poder, já que negociações para o processo de independência do Brasil passaram por suas águas quando a imperatriz Leopoldina, em 16 de janeiro de 1822, recebeu José Bonifácio em Sepetiba, e de quando também suas praias eram frequentadas por D. João VI na época da imponente Fazenda de Santa Cruz.

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