Luiza Elena Valle - Divulgação
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Por Luiza Elena Valle Psicóloga e dirigente da Gestão do Conhecimento Futuro Verde

Rio - Se você já tentou fazer algum relaxamento para se tranquilizar, você sabe que deve fechar os olhos. No momento em que você faz isso, você pode ver, por muitos outros ângulos, coisas que você não perceberia, distraído pelas informações visuais.

Ao fechar os olhos, um mundo interno surge, regressivo, poderoso; o cérebro adapta seus recursos cognitivos para além de estímulos distratores que poluem sua atenção. Um experimento chegou a mostrar que, durante uma apresentação de dança em que a plateia focava os bailarinos concentradamente, não foram vistos gorilas que apareciam no palco diante daqueles olhos fixos. Eram cegos os que estavam na plateia? Não. Depois de alertados para o teste, eles conseguiram ver os gorilas.

Existem muitas formas de se perceber o mundo. As informações sensoriais que recebemos são processadas no cérebro, de forma pessoal, porque se incorporam às emoções que sentimos e vão se refletindo em nosso jeito de ser. O cego não pode ver, quer dizer, ele não recebe as impressões visuais que nos cercam e isso pode prejudicá-lo num mundo excessivamente visual. Mas não é a falta do estímulo visual que o atrapalha, é a falta de estímulo social.

Da mesma forma que outras pessoas, o cego pode perceber e sentir o mundo. Com recursos de tecnologia, os estímulos podem aguçar a sensibilidade de todo o corpo e a visão é uma característica apenas, não um determinante de capacidade geral. Cegos podem cantar, dançar, tocar música, dar aulas pela internet, ler livros, ou seja, conhecer o que quiserem, desde que tenham oportunidade de aprender.

Há, no entanto, um atraso, porque a criança tem fases de desenvolvimento em que o cérebro responde com mais rapidez aos estímulos, e a criança cega, às vezes, demora a encontrar os recursos adequados para ela.

As leis determinam os direitos, mas não oferecem os meios. Como muitos pesquisadores e até baseando-me neles, desenvolvi uma proposta para mudar a alfabetização no Brasil e incluir crianças, a 'Revolução das Letras'. O problema é que as mudanças dependem de vontade social. Os cegos precisam receber estímulos desde cedo, como qualquer criança, tanto nas escolas como em qualquer lugar que frequentar.

Seria fantástico se os avanços científicos pudessem ser vistos nas propostas políticas! Que o Dia Nacional dos Cegos, comemorado amanhã, possa levar todos a olharem para estes indivíduos, tão brasileiros como você e eu.

Luiza Elena Valle é psicóloga e dirigente da Gestão do Conhecimento Futuro Verde

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