opinião 14 janeiro 2019 - arte o dia
opinião 14 janeiro 2019arte o dia
Por Arnaldo Niskier Professor e jornalista

O Brasil homenageou, merecidamente, Carmen Miranda. Ela fez sucesso dentro e fora do país. Embora nascida em Portugal, absorveu inteiramente o espírito carioca e o povo, reconhecido, deu-lhe o título de "Pequena Notável". Assim fez uma carreira brilhante no cinema norte-americano. Tivemos depois uma segunda "Pequena Notável". Foi Elis Regina, gaúcha baixinha, que se tornou uma das principais cantoras brasileiras de todos os tempos. Antes mesmo do seu conturbado casamento com o compositor Ronaldo Bôscoli, meu grande amigo e colega jornalista, ela já fazia carreira e consequente sucesso.

O Bôscoli era muito namorador na época. Teve casos com diversas mulheres bonitas, inclusive com as cantoras Nara Leão e Maísa. Particularmente tenho dele uma lembrança boa e que me trouxe felicidade. Por ocasião do meu noivado com a Ruth, estava meio perdido e não sabia onde comprar as alianças, e foi ele que me ajudou a encontrar as joias que até hoje estamos usando. Por isso, recordo com muita emoção a revista 'Manchete', publicada no final do ano de 1967, com Elis Regina na capa, em sua bela casa na Avenida Niemeyer, usando o vestido de noiva criado pelo costureiro Dener, especialmente para ela.

Ainda nos tempos da revista 'Manchete', da qual fui colaborador, o diretor Justino Martins, também gaúcho, encomendou-me uma entrevista com a cantora, que então dava os seus primeiros passos na carreira que a consagraria. Ela havia iniciado a carreira aos 14 anos de idade, em Porto Alegre, no Clube do Guri e veio para o Rio de Janeiro, trazida por Carlos Imperial, que revelou novos valores da música brasileira. Lembro-me de tê-la entrevistado nos anos 1960, na redação da rua Frei Caneca, ouvindo seus planos e florescentes devaneios. O engraçado é que, apesar de já ser conhecida no cenário musical, ela ainda tinha uma certa dúvida em relação ao que pretendia ser profissionalmente. Como tinha feito o curso de formação de professores no Rio Grande do Sul, ainda estava confusa entre ser cantora ou docente. Durante a conversa, ela chegou a admitir a possibilidade de fazer as duas coisas ao mesmo tempo.

A voz poderosa da cantora era capaz de tudo. Certa vez, o seu filho João Marcelo Bôscoli foi desenganado pelo médico. Ele foi muito contundente ao afirmar que não havia nenhuma chance de sobrevivência. Ela não deixou que o pior acontecesse: passou a noite toda cantando para ele e provocou um verdadeiro milagre. Pela manhã, o garoto acordou mais vivo do que nunca e com uma disposição que ela nunca tinha visto. Quando o médico chegou em sua casa, esperando apenas recolher o pequeno cadáver, levou um susto ao encontrar uma realidade totalmente diferente daquela que ele havia traçado. Só restou a ele, emocionado, dar o diagnóstico final: "Elis Regina, o som da sua voz salvou o seu filho".

A minissérie 'Elis - Viver é melhor que sonhar', da TV Globo, recontou os fatos que marcaram os 36 anos de vida da cantora gaúcha. O roteiro de George Moura, Hugo Prata, Luiz Bolognesi e Vera Egito mesclou cenas gravadas com a atriz Andreia Horta, escolhida para o papel principal, com imagens reais da intérprete de 'Como Nossos Pais', música de Belchior da qual foi retirado o título do folhetim televisivo.

A obra é derivada do filme 'Elis', cinebiografia apresentada nos cinemas em 2016, que teve ampla repercussão. Devemos admitir que esta é uma bela homenagem ao mito Elis Regina. Ela merece!

*Professor e jornalista

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