Marcus Tavares, colunista do DIA - Divulgação
Marcus Tavares, colunista do DIADivulgação
Por Marcus Tavares Professor e jornalista

Rio - Bonecas e bonecos em geral e seus acessórios foram os brinquedos mais vendidos em 2017, de acordo com pesquisa divulgada pela Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq). Em segundo lugar, estavam os veículos (carrinhos, motos e pistas), seguido dos equipamentos esportivos (patins, patinete, triciclo, veículos a pedal ou elétricos e bicicletas). Os eletrônicos e equipamentos audiovisuais, ao contrário do que se pensa, ficaram na 7ª posição de uma lista de 11 itens, atrás, inclusive, dos jogos (tabuleiro, cartas, figuras e memória). Os dados são interessantes pois de certa forma reiteram que os adultos ainda persistem - e que bom - na compra de brinquedos de faz de conta e que estejam ligados às atividades físicas e de raciocínio.

Mas preparem-se: a indústria afirma que vem aí uma nova era de brinquedos: a internet dos brinquedos. Tratam-se de novos e tradicionais brinquedos conectados à internet que possuem sensores que capturam diferentes tipos de informações das crianças para que possam, supostamente, promoverem uma maior e real interatividade com as mesmas. Na verdade, tais brinquedos já existem há alguns anos e sua produção vem crescendo pouco a pouco, principalmente, fora do Brasil. Em 2015, por exemplo, a Mattel lançou, nos EUA, a Hello Barbie. A boneca dialoga com as crianças a partir de dados coletados por algoritmos que são capazes de traçar as preferências, os gostos, os perfis de cada criança, promovendo assim uma interação individualizada. É lógico que não há como não se encantar. É como se a história do velho Geppetto e de seu boneco Pinóquio finalmente virasse realidade.

No entanto, é preciso cuidado. O que pode estar em jogo é a privacidade das crianças, da família. Se tais brinquedos conectados à internet podem capturar e gravar conversas das crianças, quem garante o sigilo de tais informações? Quem garante que tais informações serão usadas apenas para promover uma maior e melhor interação? Que os dados coletados não serão utilizados para promover, por exemplo, publicidade abusiva? Ou que não serão vazados, comprometendo a privacidade das crianças e de seus responsáveis, colocando os mesmos em risco? Foi exatamente por isso que, há dois anos, uma outra boneca, desta vez lançada na Alemanha, simplesmente foi banida pelo governo. A My Friend Cayla foi, literalmente, expulsa pelas autoridades do país que emitiram um comunicado aos adultos pedindo para destruírem a boneca. O documento informava que Cayla ameaçava a privacidade das crianças e de suas famílias e que conteúdos de algumas conversas já tinham sido vazados.

É preciso ficar atento. Mas, nesse debate, acredito que não é só a privacidade que está em jogo. Tais brinquedos conectados também tendem a minar uma coisa tão rica nas crianças, na essência do ser humano: o faz de conta. Ou seja, a imaginação e a criatividade tão importantes para o desenvolvimento e o crescimento intelectual de cada menino e menina. E isso não pode ser perdido ou negligenciado. É isso que nos faz humanos, que nos faz acreditar nos nossos sonhos e no impossível.

Marcus Tavares é professor e jornalista

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