Álvaro Quintão - Divulgação
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Por Álvaro Quintão Sec. Geral e Pres. da Com. de Direitos Humanos da OAB-RJ

Rio - A recente decisão do deputado federal Jean Wyllys de abandonar o parlamento e se autoexilar por sofrer ameaças à sua vida traz graves dúvidas a respeito da democracia brasileira. Afinal, como o estado brasileiro não consegue proteger um deputado eleito pelo povo e que, de tão ameaçado, se vê obrigado a sair do País para melhor se proteger? Outra pergunta simples: como chegamos a isso?

Em sua entrevista ao jornal Folha de São Paulo onde anunciou sua decisão, Jean Wyllys afirma que não quer morrer, que não quer ser um mártir lembrou que a vereadora Marielle Franco não sofreu ameaças à sua vida, mas mesmo assim foi assassinada.

Há anos Jean Wyllys vem sofrendo ameaças, praticamente todo dia.

Na mesma entrevista, ele cita a relação da família do atual presidente da República com os chefes da milícia do Rio; milícia esta, suspeita de ter assassinado a vereadora carioca.

Então temos um presidente recém-eleito, o cargo político mais importante da República, que já defendeu a ditadura militar e já defendeu um de seus torturadores mais conhecidos.

Um presidente notoriamente inimigo do próprio Jean Wyllys.

Também na entrevista, o ex-deputado descarta ter se exilado especificamente porque Bolsonaro ganhou a eleição. Mas ele afirma que o nível de violência contra as minorias aumentou exatamente após a eleição do ex-capitão do exército.

Assim, está respondida, pelo menos em parte, a pergunta do porquê o ex-deputado ter decidido se exilar.

No entanto, temos que falar da situação mais geral e lembrar que Wyllys não é o único a temer por sua vida. Muitas pessoas que militam no campo político e social, parlamentares ou não, quase todas elas militantes da esquerda política, também sofrem ameaças. Assim, recordemos que a luta pela terra, por uma moradia digna e por melhores condições de vida nos bairros populares de nossas cidades traz, semanalmente, notícias de militantes assassinados.

Em resumo, nosso País, hoje, não realiza os fundamentos básicos que mandam a Constituição e a legislação complementar, que são eles: direito à moradia, à saúde, transporte, educação, segurança e emprego; direito à liberdade de religião, de expressão e organização. E quem luta, historicamente, para que o nosso fundamento de bem estar social seja implementado muitas vezes é ameaçado de morte ou assassinado.

Ou seja, Jean Wylliys, como um bom lutador desse combate diário que é a luta para que as nossas leis maiores sejam cumpridas, de tão ameaçado por forças conhecidas da nossa política, forças subterrâneas e mesmo por pessoas que se escondem no meio da multidão das redes sociais, teve que sair do País para sobreviver, para não virar um mártir.

O gesto do ex-deputado descortina a tragédia que o Brasil vive. Tragédia esta que não vem de hoje, mas que vinha, passo a passo, se formando e que foi "acelerada" com o processo forçado de impeachment da presidente Dilma, quebrando o pacto político que sustentava a República; e que foi acelerado mais ainda com a eleição do atual presidente - que se elegeu, diga-se de passagem - tendo como base a intolerância, a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de dialogar com todos os personagens desse Brasil complexo.

Assim, nesta trilha que o Brasil tomou, podemos afirmar que depois da saída de Jean Wyllys outros Jeans terão que sair também. Mas até quando? A pergunta é importante, pois temos que conseguir deter essa verdadeira marcha da insensatez que tomou conta de nossa sociedade - e podem crer que o episódio que discutimos aqui nos levou muito perto da barbárie, onde a lei não impera e vence o mais forte.

Nossa total solidariedade ao Deputado Jean Willys.

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