Não é uma época saudosa, exceto pela rica produção cultural e a genialidade do nosso futebol. Contudo, o atual governo do Presidente Bolsonaro sente muita vontade de darmos passos atrás na nossa História. Em incontáveis vezes, seus filhos e membros do staff presidencial declararam abertamente a possibilidade do retorno ao regime autoritário imposto pelo AI-5.
Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP), em entrevista à jornalista Leda Nagle, em outubro, anunciou que "se a esquerda brasileira radicalizar", a reação pode ser "via um novo AI-5". A fala de Eduardo foi comentada pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno: “Tem que se estudar como fazer”. Já o outro filho do Presidente, Carlos Bolsonaro, vereador no Município do Rio de Janeiro (PSC-RJ), que está em período sabático das redes sociais, para sorte da nossa saúde mental, escreveu: "Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”. O ministro da Economia, Paulo Guedes, de Washington, declarou há poucos dias: “Não se assustem se alguém pedir o AI-5”. Todas as frases, proferidas com assombrosa naturalidade, foram depois minimizadas com a tradicional justificativa de que “não foi bem isso que eu quis dizer”.
Infelizmente, não são apenas falas isoladas. Para além do fetiche pelo entulho autoritário, o AI-5 parece ser um projeto de governo, gestado já na tensa campanha eleitoral de 2018 e que caminha, agora, a passos largos, para acontecer. Bolsonaro está em contagem regressiva para assinar, com sua famosa caneta azul, o primeiro ato institucional pós-redemocratização, sepultando de vez a proposta cidadã da Constituição de 1988. Pretextos não faltarão. Manifestações nas ruas, como as que vimos no Chile, ou uma nova decisão polêmica do Supremo. Relembremos que estopim para o AI-5, em 1968, foi o corajoso e provocativo discurso, na tribuna do Congresso Nacional, do jovem deputado federal Márcio Moreira Alves. Bolsonaro aguarda ansiosamente um “Márcio Moreira Alves” para chamar de seu.