Eugênio Cunha - Divulgação
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Por Eugênio Cunha*
Recebi a carta de uma pequena aluna, que começava com a pergunta: “Como foi seu ano professor?” E a menina seguia: “Você foi feliz? Porque eu acho que as pessoas querem ser felizes, por isso pergunto sempre. Acho que todo professor merece ser feliz. O que é felicidade para você, professor? Sabe, às vezes eu fico lembrando de você quando estou brincando de profissão. Todos meus amigos escolhem o que querem ser. Aí, ninguém quer ser professor, só eu. Quer dizer, quero ser professora, você entende, né? Fico pensando porque meus amigos não querem ensinar. Ensinar é tão bonito e importante. Acho que, no fundo, todo mundo deseja ser bonito e importante, mas sem ser professor”.

Assim que terminei a leitura desse pequeno trecho, o apreço e o enternecimento tomaram conta de mim. Penso que devemos amar a educação como uma criança.

Ela continuou: “Nunca vi você triste, nunca vi minha professora triste. Mas Vocês ficam tristes, professor? Uma vez eu fui para a escola triste. Minha professora me viu assim e foi falar comigo. Ela conseguiu me animar. Voltei a ficar alegre. Às vezes, eu acho que ela é minha mãe”.

De fato, só se compreende bem a grandeza do ofício docente com os olhos de quem aprende. Ninguém considera mais um professor que o seu aluno.

É preciso valorizar o professor com salários dignos, condições de trabalho dignas, reconhecimento profissional, condições para que o ensino seja estimado como essencial para o desenvolvimento da nação. Trata-se de uma dívida social. Estabelecer projetos formativos para o magistério, nas instituições públicas e privadas; na educação básica e no ensino superior. É preciso vontade política para que isso aconteça.

Por que alguém escolhe ser professor? Atualmente, apenas 2,4% dos alunos de 15 anos têm interesse pelo magistério. Quanto menor a escolaridade dos pais, maior é a proporção dos interessados. Talvez o reconhecimento exista naqueles que não tiveram acesso apropriado à educação.

Ser professor é um ato de ousadia. Ousadia de concorrer contra os números. Trilhar um percurso em que o maior estímulo será a coragem de seguir em frente.

Minha pequena aluna concluiu sua carta assim: “No futuro, pode ser que eu não me torne professora, mas quero ter o mesmo amor que um professor tem pelo que faz”.
*Eugênio Cunha é Doutor em educação, professor do Ensino Superior e da Educação Básica.