Por Marcos Espínola*
Tradicionalmente nesta época do ano o sentimento de amor e solidariedade paira no ar. É hora de reflexão e de avaliarmos tudo o que passou e as perspectivas futuras. No entanto, como compartilhar essas sensações com os inúmeros cariocas que agonizam nas filas dos hospitais? Como ajudá-los a ter esperança diante de um quadro caótico, no qual não há luz no fim do túnel? E o ingrediente ainda mais cruel é o fato de as autoridades simplificar a situação, afirmando que o cenário que se apresenta é falso, como se todas as constatações e, efetivamente, mortes ocorridas nos últimos tempos fossem uma fantasia. Em tempos de desejarmos boas vibrações uns para os outros, falar em Feliz Natal para boa parte dessa população, em verdade, pode até parecer deboche.

São imensuráveis os problemas em toda a rede, essencialmente a municipal. Dados do Portal de Transparência do Sisreg (Sistema de Regulação) sugerem que mais de 18 mil pessoas em estado grave estão no aguardo da marcação de exames e consultas. O tempo médio de espera gira em torno de oito meses, o que é inadmissível, pois de acordo com o protocolo de atendimento, esses pacientes deveriam aguardar no máximo um mês. A realidade é bem diferente, com pacientes esperando há anos.

O resultado desse caos se reflete na posição que o Rio de Janeiro alcançou entre todos os estados do país, tendo a maior taxa de mortalidade hospitalar geral e também em clínica médica, em leitos do Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto a média do Brasil em clínica médica ficou em 10,15% no primeiro semestre deste ano, no estado do Rio, a taxa foi de 17,26%. Já a taxa geral, que inclui todas as especialidades, a média nacional é de 4,49% contra 7,12% no Rio.

O problema generalizado atinge também os profissionais da saúde. Muitos funcionários continuam sem salários e sem condições dignas de exercer suas funções. A justiça determinou que a prefeitura criasse um gabinete de crise, atendendo pedido da Defensoria Pública e do Ministério Público. Uma medida emergencial, mas evitável se não tivéssemos deixado a situação ficar caótica.

Em tempos de espírito natalino, o maior pedido de presente que podemos fazer é de bom senso e boa vontade por parte das autoridades para que conceda à população as condições básicas de saúde, conforme garante a Constituição. Só assim será possível pensarmos num Feliz Natal, se não com dinheiro no bolso, pelo menos com saúde.



*Marcos Espínola é advogado Criminalista e especialista em Segurança Pública.