OPINA7JAN - ARTE O DIA
OPINA7JANARTE O DIA
Por Lucia Madeira*
As notícias parecem promissoras: as mulheres já são maioria nas
universidades e têm mais anos de estudo do que os homens. No entanto, o
relatório do Fórum Econômico Mundial sobre desigualdade de gênero mostra o
Brasil na 92.ª posição entre 153 países analisados. A participação econômica e
o emponderamento político são as áreas onde a diferença entre homens e
mulheres ainda é grande. Segundo o Índice de Desenvolvimento de Gênero do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, as mulheres
ainda ganham em média 41,5% a menos do que os homens, principalmente
porque ainda são minoria nos cargos de liderança. O que falta acontecer para
mudar esta situação? Não podemos esperar quase um século. A hora da
virada é agora.

O estudo da consultoria Lee Hecht Harrison- LHH aponta que para
alavancar a liderança feminina as empresas precisam criar condições de
progressão na carreira, reconhecendo os talentos femininos e promovendo
uma cultura inclusiva com práticas que apoiem o crescimento das mulheres e
eliminem as disparidades salariais. Proporcionar flexibilidade de horário, home-
office, auxílio para creche, licença estendida, estabelecer metas de aumento
nos postos ocupados por lideranças femininas são algumas das práticas que
estas empresas podem implantar. Mas muito depende de mudanças na
atuação das próprias mulheres, observando os comportamentos individuais, o
que diferencia as que foram bem-sucedidas na carreira e pensando em como
promover suas carreiras como líderes, numa visão de longo prazo.

Por outro lado, existem gatilhos e armadilhas que podem ser eliminadas de
imediato. As principais maneiras pelas quais as mulheres se sabotam, por
insegurança ou medo de não corresponder às expectativas, são:
1. Duvidar do próprio potencial, achar que não faz mais do que a obrigação.
2. Não divulgar seus pontos fortes, sucessos e opiniões, achando que é
preciso ser especialista para falar.
3. Ficar muito presa nas tarefas e não querer abrir mão do controle. Com isso
não cria espaço para atividades mais estratégicas.
4. Pensar demais nos prós e contras de uma promoção. Nunca se sentir
“pronta”.
5. Tentar ser uma mulher-maravilha e dar conta de tudo.

Mulheres ainda carregam a responsabilidade de serem as principais
cuidadoras dos filhos e pais e consideram o alto custo de contar com uma rede
de apoio, quando estão trabalhando. Isso não deve ser visto como um
obstáculo para promoções. Se perseguirem maiores salários, conseguirão com
mais facilidade arcar com estes custos adicionais. Não se deve abrir mão de
uma oportunidade profissional pensando em todas as dificuldades que irá
enfrentar para conciliar casa e trabalho, recusando propostas atrativas.

Embora carreira e vida pessoal não percorram caminhos independentes,
com a consolidação da participação feminina no mercado de trabalho, esse
deve ser um esforço conjunto das empresas, criando condições, e da família
apoiando. Agora, não há mais uma agenda individual. Se a mulher é
promovida, pode estar na ponte aérea, conduzindo um seminário, fechando um
negócio com um cliente importante. A rotina diária exige uma estratégia de guerra:
quem vai ficar com o carro, quem vai à reunião da escola, quem leva o
pai idoso ao médico.

Essa é uma nova dinâmica das relações de trabalho que ainda não
ganhou a atenção merecida. A carreira de qualquer profissional não é mais um
fato restrito ao ambiente de trabalho. Tanto para mulheres, quanto para os
homens, exige um planejamento pessoal e familiar, constantemente revisto,
escolhas que precisam ser feitas. Mas não deve ser sempre a mulher a ceder,
a abrir mão daquele sonho individual de assumir mais responsabilidades
profissionais.
*Lucia Madeira é presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro