Júlio Furtado  - Divulgação
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Por Júlio Furtado*
Estamos vivendo tempos de planejamento do ano. É importante diferenciarmos relacionar desejos e esperanças de planejar formal e estruturadamente, o que exige levantamento de condições, demandas e expectativas, análise de cenários, elaboração de estratégias e montagem de planos de ação. Gostamos muito de listar desejos, mas o planejamento estruturado, que deveria ser um ato de motivação e nascimento de possibilidades, em geral se mostra um momento enfadonho, burocrático e difícil de ser cumprido.

É preciso fazer a ressalva de que planejar nunca foi o ponto forte do brasileiro, nem mesmo da cultura latina. Não herdamos esse “gene cultural” e, por isso, precisamos fazer um razoável esforço para planejar o futuro. É aí que se fortalece uma variável primordial do planejamento: a crença positiva no futuro. Quanto mais acreditamos que as coisas irão melhorar, mais nos predispomos ao exercício formal do planejamento. Logo, acreditar precede planejar.

Para a quase totalidade dos professores é tempo de planejar o ano letivo. Rever os conteúdos, as metodologias e, principalmente, levantar o que os alunos já sabem e o que deixaram de aprender são ações altamente influenciadas pelo quanto acreditamos que a escola cumprirá o seu papel de promover aprendizagens, o que passa pela crença de que as aulas provocarão interesse e motivação em nossas crianças e jovens. Em suma, planejar pressupõe em alto grau acreditar que nossa ação fará diferença na evolução positiva dos resultados. A meu ver, é nesse ponto que o ato de planejar desanda.

Planejar os resultados da aprendizagem requer acreditar que somos capazes de ensinar e que nossos alunos são capazes de aprender. Diante dos rankings internacionais, da atenção dada à Educação no momento e diante da autoestima média dos professores brasileiros, eu não hesito em afirmar que os condutores das atividades de planejamento educacional vão precisar de muito talento para inspirar nos professores as crenças necessárias a um planejamento legítimo e consistente.

Sabedores de que o planejamento é filho da esperança, reavivemos em nós a crença de que podemos ensinar e de que nossos alunos podem e precisam aprender. Reflitamos sobre a necessidade de mais diálogo e de menos discurso, de mais observação e de menos imposição e, acima de tudo, disponhamo-nos a aprender e a mudar o caminho enquanto tentamos trilhar o caminho que acreditamos.
*Júlio Furtado é professor e escritor