Roberto Sá Filho
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Roberto Sá Filho Divulgação
Por Roberto Sá Filho*
Cartolas, como chamamos popularmente os dirigentes de clubes de futebol, nada mais são do que parte da imensa massa de torcedores apaixonados, reunidos em um seleto grupo imbuído de decidir os caminhos a serem tomados por suas agremiações desportivas.

No fundo, majoritariamente, o que vimos nas últimas décadas foi a emoção da arquibancada gerindo as "empresas" que movimentam as cifras milionárias do futebol atual. Um montante astronômico que, no universo corporativo, seria administrado por executivos experientes movidos pela razão.

Esse fenômeno se agrava quando existe um desencontro no entendimento de sucesso dessas administrações. Para muitos torcedores, membros da mídia e até para os dirigentes mais fanáticos, a boa administração é aquela cheia de vitórias futebolísticas, independentemente dos resultados financeiros obtidos no mesmo período. Enquanto a ruim é aquela sem vitórias expressivas, mesmo que seja responsável e coloque as finanças em dia, permita a manutenção de bons elencos e tenha imenso potencial de vitória nos próximos anos.

Da mudança do futebol amador para o futebol profissional até a era do futebol espetáculo atual, o dirigente foi o último a se profissionalizar na função. A explicação para essa delonga pode estar no fato de que mesmo os diversos empresários de sucesso, em suas empreitadas profissionais, na maioria dos casos deixaram seu lado torcedor sentar nessas cadeiras, gerindo pela emoção as decisões e estratégias. Um olhar atento à história de qualquer grande clube do Brasil mostrará gestões que criaram dívidas, anteciparam rendas, e praticaram outras mazelas que assombram nossas entidades esportivas.

Se até pouco tempo era difícil imaginar o equilíbrio, em que um clube financeiramente responsável teria sucesso nos campeonatos, ano passado o Flamengo provou que é possível. Depois de seis anos pagando boletos e amargando poucos títulos, basicamente estaduais e uma Copa do Brasil, conseguiu um ano de 2019 mágico, com grandes contratações que se concretizaram em grandes títulos.

Com esse equilíbrio entre razão e emoção, finanças e conquistas, montou um modelo de negócio que se mostra cada vez mais promissor, ao utilizar, entre outras práticas, o seu maior patrimônio: a torcida como força motriz. Agora cabe aos outros clubes seguir o modelo ou encontrar o próprio caminho que, antes de tudo, engrandeça o esporte e agrade à torcida. E claro, cabe ao Flamengo o maior desafio: manter-se nas gestões futuras.
*Roberto Sá Filho é professor da ESPM Rio e Diretor de Criação da 3AW