OPINA28JAN - ARTE KIKO
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Por Jonas Magalhães*
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) alcançou a incrível marca de seis milhões de inscritos em 2019, maior número de participantes desde 2010. Esse quantitativo demonstra que há cada vez mais entre os jovens brasileiros o desejo e, em tempos de competição cada vez mais acirrada no mercado de trabalho, a necessidade de dar continuidade aos estudos e ingressar em uma universidade pública.

Uma avaliação em larga escala como esta exige planejamento, controle e monitoração em todas as suas fases para que, mesmo os erros que eventualmente surjam, possam ser corrigidos em tempo razoável para minimizar os prejuízos para os inscritos que realizam as provas.

Os erros na contabilização das notas encontrados e denunciados pelos estudantes que fizeram o Enem, foram prontamente justificados pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que procurou minimizá-los justificando tratar-se de um “problema na impressão da gráfica”. Dito desse modo, parece tratar-se de algo trivial, comum e sem muita importância, tal como uma confecção pequena que entrega parte das camisas faltando um único botão.

Ora, pela escala, importância e natureza do Enem, espera-se que haja um forte controle de qualidade capaz de identificar erros na impressão de provas antes que chegassem às mãos dos candidatos. Era o que previa o edital de contratação da gráfica que, sem experiência em trabalhos dessa monta, teve falhas operacionais em duas etapas de verificação de erros que poderiam ter evitados os transtornos aos afetados e mais do que isso, a desconfiança da opinião pública em relação à competência gerencial do ministro da Educação.

A propósito, não é demais lembrar que a capacidade de Abraham Weintraub para gerenciar a pasta da Educação vem sendo questionada não é de hoje. O relatório da Comissão Externa de acompanhamento do Ministério da Educação apontou problemas de gestão “insuficiente do MEC”.

Mesmo em ações anunciados como prioritárias pelo governo, como a Política Nacional de Alfabetização, não há ainda um plano claro de implementação. Além disso, faltam políticas de formação docente, a execução orçamentária é baixa em áreas como a Educação de Jovens e Adultos, há pouca articulação com as secretarias estaduais e municipais e sobram ocupantes de cargos de confiança sem experiência na área de Educação.

Num quadro como este de paralisação, não é impressionante que o ministro continue, bem ao modo Bolsonaro de governar, mantendo uma postura arrogante, bélica e nada republicana para quem ocupa um cargo de tal importância. Depois de irresponsavelmente dizer que as universidades são locais onde se promovem balbúrdias, plantação de maconha e doutrinação ideológica, o ministro resolveu, acuado pelas críticas após o episódio do Enem, atacar acadêmicos reconhecidos publicamente como Leandro Karnal e Marco Antonio Villa, este último chamado de “boca de esgoto”.

O ministro, que já trocou Kafka por Kafta e cometeu erros grosseiros de ortografia, deveria estar mais preocupado em corrigir suas não pequenas falhas e dar respostas efetivas para as demandas educacionais deste país do que ocupar-se com ataques vis e infantis à imprensa, à intelectualidade, aos estudantes e aos professores brasileiros.
*Jonas Magalhães é professor da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro e pedagogo da Universidade Federal Fluminense