Mesmo que parte da população de maior risco (idosos, por exemplo) ainda consiga permanecer em casa, estamos, a meu ver, diante de uma situação de roleta russa: é impossível prever, dentro da população de menor risco, quais serão os indivíduos que vão evoluir com gravidade. Além disso, mesmo que não desenvolvam os sintomas, já temos a certeza da transmissão através de pacientes assintomáticos, que poderão carregar o vírus para dentro de suas casas, locais de trabalho e outros lugares de alto risco de contágio, como os recém-reabertos restaurantes self service e pistas de dança, expondo inúmeras pessoas à doença.
Apesar de sabermos que boa parte do que passa a ser permitido a partir de agora já estivesse acontecendo na prática pela cidade, nos preocupa que essa liberação passe a ser oficial. O receio é que a população acredite que o vírus não esteja mais circulando entre nós e que, consequentemente, o risco de contaminação tenha acabado, deixando de lado os protocolos de segurança.
Concordamos que é preciso amenizar os impactos negativos da pandemia na economia e na saúde emocional da população. O contato físico com familiares e amigos e a volta das atividades sociais são fundamentais para o nosso bem-estar. Mas isso deve ser feito de forma segura, sem envolver aglomerações e muito menos descuido com as medidas de proteção.
É praticamente consenso entre os especialistas da área de Saúde que a única forma de realmente conter a Covid-19 é através da vacinação, que ainda não tem data prevista para acontecer. Até lá, se queremos oferecer segurança à população, não podemos nunca nos esquecer do tripé: testagem ampla, com isolamento dos casos positivos; maior distanciamento social possível e uso de máscaras e higiene das mãos.
Somente dessa maneira é possível, pelo menos nesse momento, conter a proliferação do vírus, minimizar os danos causados pela doença e salvar vidas.
*Infectologista, Coordenadora do Serviço de Higiene e Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Vicente de Paulo (RJ).