A chuva me convidava a ouvir o que, há pouco, era inaudível. Sons silenciosos barulhavam em mim. Eu estava sozinho. E acompanhado de vidas que eu gostaria que voltassem a estar. Estavam; de alguma forma, estavam.
Levantei um pouco os pensamentos e resolvi deixar de brigar. Foi, então, que, me sentindo triste, convidei a tristeza para um café. O velho coador de pano recebeu o pó e, depois, a água que, ao passar, ia perfumando aquele dia chuvoso e se transformando em sabor.
Foi, então, que me sentei em tudo. E que conversei com a tristeza explicando o que eu sentia e mostrando, inclusive, compreensão pela sua presença. Um café não se toma apressado, inda mais acompanhado. Fui dizendo os dias em que ela foi quase insuportável. Ouvi, no silêncio, as explicações, o que veio depois, o que ficou em mim. Mudei de dor. Fui buscando feridas que já não mais havia.
Chorei sem avisos. E ela, a tristeza, esperou. E esperamos o barulho da chuva nos ensinar sobre a germinação. A morte gera a vida. É assim na semente e no que brota. É assim com o dia. A morte da noite gera um dia que, ao morrer, faz nascer uma outra noite. Em mim, há o que morre e há o que nasce.
A tristeza parece ter gostado do café. E a chuva foi se rarefazendo como, também, as ausências. Foi quando desisti de pedir à tristeza que partisse. Era bom conhecer um pouco melhor quem tanto me conhecia. E me ensinava. E me fazia companhia. Pela janela percebi o luar. E sorri das minhas esquisitices.