Monica Benício é vereadora eleita do Rio pelo Psol - Larissa Kreili
Monica Benício é vereadora eleita do Rio pelo PsolLarissa Kreili
Por Mônica Benício*
No final de 2020, ano marcado pela pandemia de covid-19, o feminicídio da juíza Viviane Arronenzi, em plena véspera de Natal, chocou o Brasil. Mas infelizmente não é uma exceção. O assassinato da juíza, com 16 facadas pelo ex-marido, na frente das 3 filhas, é o retrato de uma sociedade que despreza a vida das mulheres.
Além de Viviane, morta aqui no Rio, pelo menos mais 5 mulheres foram vítimas de feminicídio no mesmo período. Thalia Ferraz, 23 anos, e Aline Arns, 38, em Santa Catarina; Evelaine Aparecida, 29, no Paraná; Loni Priebe, 74, no Rio Grande do Sul, Anna Paula Porfírio, 45, em Pernambuco. Que sociedade é essa, que naturaliza a morte de mulheres no dia a dia, todos os dias, inclusive na época natalina?
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Assim, como nesses casos, 90% das vítimas de feminicídio no Brasil são mortas por ex-maridos ou ex-companheiros. No primeiro semestre de 2020, o Brasil registrou uma média de 3 feminicídios por dia, 1,9% a mais que o mesmo período de 2019, 61% das vítimas de feminicídio no país são negras (Fórum de Segurança Pública).
Nós vivemos uma pandemia do patriarcado, sem hora, nem data para acabar. Onde o feminicídio é a ponta do iceberg de uma violência cotidiana contra as mulheres. A mais alta expressão de uma sociedade onde a vida das mulheres, da população negra e LGBTs não importam. A não ser quando estão obedecendo e servindo ao poderio dos homens brancos, cisgêneros e heterossexuais. Nesse mundo capitalista-patriarcal, nossas vontades e desejos se tornam uma afronta ao sistema. Mesmo quando falamos de direitos básicos, como escolher com quem nos relacionamos, ou quando não queremos mais seguir em um relacionamento, podemos ser covardemente "punidas" com as nossas próprias vidas, como Viviane.
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Desde a criação das filhas e filhos, passando por programas sensacionalistas de televisão, até chegar em leis e práticas machistas - como aquelas que nos privam do direito sobre nossos próprios corpos - a sociedade em que vivemos tem sido pródiga em causar violência contra nós mulheres - seja ela direta, como os casos de feminicídio; seja indireta, como o assédio sexual permanente e a desigualdade salarial.
Hoje, para piorar a situação, temos em Brasília a representação maior de um ser humano que odeia as mulheres. Um ser humano que já verbalizou que ter uma filha menina, para ele, era sinal de "fraquejada". Machista, sexista, e também LGBTfóbico e racista, passou a ser inspiração para o que há de pior nas pessoas.
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Enquanto feminista, defensora dos direitos das mulheres, farei o que estiver a meu alcance para enfrentar esse estado de coisas. Temos que superar a violência estrutural, combater a desigualdade de gênero e exigir que os governos, em todos os níveis - municipal, estadual e federal - adotem políticas públicas voltadas para a promoção e defesa dos direitos das mulheres. Quando uma sociedade se torna boa e segura para as mulheres, ela é melhor também para todas e todos.
*Monica Benicio é arquiteta-urbanista e vereadora pelo PSOL-RJ