Marcelo Kieling
Marcelo KielingReprodução
Por Marcelo Kieling*
Sou filho de uma família totalmente brasileira. Meu pai, um pernambucano, veterano da Segunda Guerra, um anônimo militar, herói nacional. Minha mãe, uma gaúcha, com alguma linhagem ligada na família Vargas. Meus dois irmãos, membros importantes do Judiciário carioca, nasceram em São Luís, no Maranhão. Minha irmã, a única que tem a opção correta de local, nasceu no Rio de Janeiro. Eu, por capricho dos deuses, nasci em Querência do Norte, Paraná, para onde meus avós maternos, foram desbravar as terras, nas plantações de café.
Vivo no Rio desde os três anos de idade, quando meu pai, passou para a reserva do Exército. Tive infância maravilhosa, mesmo com todos temores da ditadura. Fiz curso primário em escola pública e o ginásio e científico na melhor escola do Brasil, o meu amado e inesquecível Colégio Pedro II. Servi ao Exército, me formando 2º tenente R2, depois de cursar o Centro de Preparação da Reserva (CPOR/RJ), em 1979. Depois percorri meu caminho educacional, com cursos e formações superiores.
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Sendo assim, vivi os anos, talvez mais duros da história recente do país. Mas hoje vivemos os momentos mais cruéis, profanos e desesperadores da nossa história. Vivemos numa democracia, corroída pelo ódio, com um governo atuando com a disseminação da mentira, do racismo, da guerra aos gêneros e é absolutamente desprovido de qualquer sentimento de empatia ou compaixão.
Com isto me vejo compelido diariamente a escrever e expor meu sentimento de indignação e revolta, pelo momento de um total desgoverno e pela absoluta inércia da elite ou cúpula da sociedade, que parece estar anestesiada ou é conivente de um governo desleal, desprovido de qualquer compromisso com o país e com o povo brasileiro.
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Os representantes do governo federal atual tentam seguir o manual do fascismo da extrema direita. Pregam o forte nacionalismo, ultra-conservadorismo, extremismo, superioridade em relação a outras culturas e até mesmo adotam comportamentos de preconceito e xenofobia. Uma das metas desta forma de fazer política é destruir as instituições, para se ter o controle totalitário sobre tudo. E tem também como ferramenta a transferência de responsabilidades de seu absoluto desgoverno, usando basicamente a metodologia do bode expiatório: tudo é culpa da esquerda, do PT, dos progressistas etc.
Sempre se mostram estranhos nas decisões de seu próprio governo, tentando angariar cada vez mais a simpatia do pequeno grupo de fanáticos que os seguem. Consideram os outros como inimigos políticos. E inimigos, se for possível, precisam ser aniquilados, como vemos na periferia e na perseguição a indígenas. Ou devem ser exterminados simbolicamente, com a ideia do silenciamento e da censura.
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Exemplo recente: Trump e o seu incentivo para os ataques ao Capitólio e destruição do mundo democrático político. Outro exemplo mais antigo: Hitler, que por sinal é o exemplo mais assemelhado ao do atual governo desta lona circense instalada na bolha chamada Brasília. Escrevo tudo isto com muita tranquilidade, pois participei intensamente da pré-montagem de uma campanha presidencial, e de uma outra para Prefeitura do Rio de Janeiro. Vi de perto uma grande leva desses “caras” que se mantêm no poder por décadas. Aprendi a ter alguma habilidade na interpretação e sensibilidade da política.
Uso de muita ironia para tentar vencer a minha indignação e revolta diante da forma como esses indivíduos tratam nossa terra, que é simplesmente rica, linda, poderosa, cheia de recursos, mas que é explorada como um garimpo escravo que parece querer não ter fim.
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Vivemos um momento perigosíssimo, pois estamos muito perto do caos social, que será muito mais grave do que ocorreu na também bela Venezuela e, se chegarmos neste ponto, pela extensão territorial e pelas distintas áreas de percepção regional, o Brasil levará décadas para ter alguma recuperação. Não temos problemas, somos ricos. Mas estamos diante um grande exercício de retrocesso, da derrubada do interesse público, da destruição do coletivo em prol dos desejos de um pequeno grupo ideológico.
Não podemos, por nossos filhos e netos, deixar isto acontecer e muito menos prosperar. A democracia no Brasil vive em crise desde 1988, mas o atual momento vem da ideia da necessidade do autoritarismo, do golpismo, da ditadura, pois a democracia seria frágil demais e não funciona em momentos de insegurança.
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O discurso presidencial é de que o culpado pela situação de crise é justamente a política. Porque a política é uma atividade corrupta, suja, vergonhosa, mentirosa, elitista, fisiológica. Existe de forma cínica, e então, há negação da política, como se já não bastassem a negação sanitária, o negacionismo e abandono da Ciência e o descaso com a Educação.
Precisamos de uma voz de liderança e de uma marca forte que seja a cabeça e o coração desta luta pela LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE. Depois de séculos, precisamos da nossa Revolução Francesa.
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*É jornalista, especialista em marketing e bacharel em Ciências Contábeis.