O Brasil não pode ficar refém de distribuição mundial de imunobiológicos na hipótese muito provável de uma nova pandemia
Por Josier Vilar*
Já passamos de 257 mil mortos o resultado da terrível pandemia da covid19, além de milhares de pessoas com sequelas físicas e psicológicas graves. Entretanto, algo de positivo sempre fica dessas amargas e dolorosas experiências. Pela primeira vez, percebo um grande interesse da população pela governança da Saúde brasileira.
Além de todos estarem familiarizados com siglas antes desconhecidas como IFA, PNI, M-RNA e tantas outras, revelou a todos nós o lado mais trágico da nossa imensa dependência estrangeira para a compra de insumos básicos para o suporte a vida.
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A pergunta que não quer calar é: por que somos dependentes de insumos estratégicos para a saúde brasileira?
Qual a razão para ficarmos dependentes de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs). Por que não os produzimos no Brasil, um pais com inúmeras universidades e centros de produção e pesquisa reconhecidos internacionalmente? O que aconteceu com o ambiente de produção cientifica em nosso país?
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O Brasil não pode ficar refém de distribuição mundial de imunobiológicos na hipótese muito provável de uma nova pandemia. Reduzir as amarras regulatórias, excluindo os excessos que as poluem e financiar corretamente as pesquisas no Brasil é um imperativo para essa mudança de atitude que o país espera.
Os algoritmos e a inteligência artificial nos conduzem a lugares e espaços que jamais imaginamos e nos fornece a previsibilidade de novos eventos dramáticos como o da covid19 com muita precisão. O desenvolvimento de um polo de inteligência no desenvolvimento de soluções inovadoras para a Saúde e a criação de incentivos para a construção de um complexo industrial que permita nos tornarmos minimamente independentes da produção estrangeira é do interesse da soberania nacional.
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O Rio de Janeiro, por possuir gigantes da indústria e centros de pesquisa de grande reputação como a Fiocruz/Biomanguinhos, Coppe-UFRJ, Petrobras, GE, GSK, além de inúmeras universidades públicas e privadas com pesquisadores de alta qualificação técnica, poderia ser esse polo de desenvolvimento da indústria 4.0, transformando a cidade em um grande cluster de inovação, empreendedorismo e pesquisa da Saúde brasileira.
O Rio não pode perder mais uma oportunidade de aprendizado com a tragédia que o destino e a natureza nos concederam. Diz um ditado africano que “todos os dias de manhã, na África, o antílope desperta. Ele sabe que terá de correr mais rápido que o mais rápido dos leões, para não ser morto. Todos os dias, pela manhã, na África, desperta o leão. Ele sabe que terá de correr mais rápido que o antílope mais lento, para não morrer de fome”.
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É uma grande oportunidade para o Rio se reencontrar com seu destino. Só tem de ser rápido na execução.
*É médico e presidente do Fórum Inovação Saúde – Iniciativa FIS