Bruna Galvão -Opinião O Dia
Bruna Galvão -Opinião O Diadivulgação
Por Bruna Galvão*
A devastação da Amazônia, processo acelerado de forma assustadora em 2020, segue em 2021 ainda sem freios. Isso ocorre porque o governo federal tem destinado ao meio ambiente tratamento semelhante ao que dispensa à pandemia por covid-19, não por acaso, ainda fora de controle no Brasil. Sem mudança imediata de rumos nas políticas públicas ambientais, há de se perguntar o que restará do Brasil para as futuras gerações. Nesse contexto ameaçador, é bem-vindo o surgimento da Coalizão Evangélicos pelo Clima, instrumento estratégico de pressão popular por essa mudança obrigatória.
Igrejas e entidades de diversas bandeiras religiosas evangélicas compõem a coalizão. Esse movimento carrega consigo o peso político na sociedade brasileira de um setor que corresponde a cerca de um terço dos brasileiros, dado estatístico que avança, inclusive, em curva de crescimento. Os resultados de pesquisa feita no final de 2020 pela agência Purpose inspiraram a formação da coalizão. Entre os dois mil evangélicos entrevistados em todo o país, 50% declararam o voto em Bolsonaro em 2018, mas 76% agora desaprovam as suas políticas ambientais. Do total, 67% declararam a intenção de levar em conta, ao decidir o próximo voto, essa preocupação com a agenda ambiental.
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Na versão qualitativa da pesquisa, manifestou-se a visão de que a pandemia seja, inclusive, resposta aos ataques ambientais. Para 85% dos entrevistados, esses ataques representam pecado digno da ira de Deus. O desmatamento é a principal preocupação de 44% dos evangélicos ouvidos. A poluição das águas mobiliza 20% entre os pesquisados e o descarte inadequado de resíduos sólidos, 11%. As mudanças climáticas e o aquecimento global, grandes obras, agrotóxicos, a agropecuária, a caça e pesca e a mineração desenfreados são citados como ameaças.
Os dados levantados pela Purpose revelam o pensamento da consistente base de sustentação da coalizão, que nasce e se organiza no seio das comunidades evangélicas brasileiras. A opinião que desse modo vem à tona desconstrói o senso comum segundo o qual esse público se constituiria em bloco supostamente rígido e homogêneo de apoio ao governo Bolsonaro. Essa posição dos evangélicos tem potencial de alto impacto na sociedade e na política em nosso país. A consciência ambiental dos evangélicos pode transformar a realidade ambiental sem qualquer conflito com a fé e até, pelo contrário, em sintonia com reconhecimento do caráter divino da Criação.
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A coalizão, em conjunto com os demais movimentos de defesa ambiental, tem muito a contribuir para apressar em nosso país as condições para o urgente basta à destruição gananciosa das florestas, dos animais, da água, do clima e do próprio ar que respiramos. Mais do que isso, esse movimento semeia a esperança de um novo tempo em que será possível promover no Brasil uma relação responsável e harmônica entre o ser humano e a natureza criada por Deus, da qual somos parte e sem a qual simplesmente deixaremos de existir.

*É coordenadora de Campanhas do Lab de Clima da Purpose