É preciso unir o país, ouvir a Ciência, aproveitar a retomada do auxilio emergencial entendendo-o também como medida sanitária, convocando os brasileiros ao lockdown por algumas semanas e evitar a devastação final do Brasil
Por Rodrigo Neves*
No início de janeiro, a convite do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, iniciei pesquisa acadêmica sobre pandemia e cidades e o futuro da democracia. Queria entender melhor as razões do êxito de Portugal no combate à covid-19 e o bem sucedido modelo político da geringonça, uma coalizão de centro esquerda e esquerda que coabita com um presidente conservador de centro direita, que governa o país desde 2015 com estabilidade política, crescimento econômico maior do que a Europa e a retomada no século XXI de um Estado de Bem Estar Social.
Para minha surpresa, naqueles dias iniciais de janeiro, Portugal estava passando pela pior situação na pandemia com recordes diários de óbitos e novos casos do país em função da nova variante britânica, do inverno mais rigoroso, das aglomerações excessivas de Natal e Ano Novo decorrentes da auto confiança com o êxito na primeira onda e relaxamento dos cidadãos nas medidas de prevenção com o inicio da vacinação em dezembro.
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A situação era dramática a ponto de pacientes graves do continente terem que ser levados para atendimento nas ilhas da Madeira e Açores, pois os hospitais estavam com quase 100% de ocupação dos leitos.
Foi então que assisti o pronunciamento histórico do presidente da República afirmando que “nenhuma das negações resolve as esperas infindáveis, o sufoco das unidades intensivas, o sofrimento dos doentes. Temos de ser mais firmes no que fizemos. Sabemos que o custo de medidas mais duras é inferior ao custo de uma sociedade destruída por uma pandemia”. Junto com o primeiro-ministro, de centro esquerda, convocaram os portugueses ao lockdown diante do “período mais difícil da pandemia”.
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Após algumas semanas de rigoroso confinamento, todos indicadores epidemiológicos apontam para a retomada do controle da situação em Portugal, com menos casos novos, cerca de 45 óbitos-dia, e menos de 35% de ocupação dos leitos. Com o Plano de Reestruturação e Resiliência começam a debater a execução de expressivos investimentos em energias renováveis, transição digital, Saúde, transporte e habitação, para a retomada do pós pandemia, pois como diz o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos “o novo século começa agora”.
Diante, infelizmente, da previsível tragédia humanitária e sanitária do Brasil com recordes diários de mortos e explosão das UTIs nas cidades, é fundamental seguir o exemplo de Portugal. Unir o país, ouvir a Ciência, aproveitar a retomada do auxilio emergencial entendendo-o também como medida sanitária, convocando os brasileiros ao lockdown por algumas semanas e evitar a devastação final do Brasil.
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Em “Raizes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda problematiza com o homem cordial a colonização portuguesa. Hoje os portugueses descobriram o caminho para enfrentar a pandemia e é preciso seguir Portugal.