Benedita da SilvaReprodução DO Facebook

Por Benedita da Silva*
Há uma situação no Brasil que deveria incomodar ao conjunto da sociedade brasileira, pois afeta diretamente a qualidade de vida e a convivência civilizada de todas as classes sociais. Refiro-me à situação de discriminação, opressão e exploração das populações negras, situação que se mantém basicamente a mesma desde a abolição da escravidão.

O Brasil só vai se tornar um país soberano e democrático de verdade quando a maioria negra da população tiver respeitados os mesmos direitos de cidadania historicamente reservados para as elites sociais. Mas por que a situação do povo negro nunca mudou?
Essa é a pergunta que o povo faz e não tem resposta porque esta mexe com seus interesses econômicos e privilégios sociais. Mas respondemos: no Brasil, o racismo da sociedade e do Estado sempre foi usado para justificar a enorme desigualdade social e para manter o poder restrito às elites. Por conta disso a população negra paga um preço elevado, com uma vida de pobreza, discriminação, violência e baixíssima remuneração.

O relatório da Ong Oxfam revela que cerca de 80% das pessoas negras ganham até dois salários-mínimos e o IBGE informa que 85,2% dos negros compõem o grupo formado pelos 10% mais pobres da população brasileira. Estudo da Rede de Observatórios de Segurança Pública informa que dos 1.814 mortos pela polícia, em 2019, 86% são negros. Situação que se repete nos estados. Até mesmo a covid-19 mata 40% mais negros que brancos, segundo a CNN.
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A conclusão só pode ser uma: no Brasil a desigualdade social e a violência têm cor. A desigualdade social e a discriminação racial formam os dados da mesma moeda. Suas consequências diretas, estão estampadas no desemprego e empregos precários, nas favelas e periferias, na fome e desnutrição, na Saúde pública precária, no ensino de baixa qualidade, na falta de saneamento básico, nos transportes públicos precários, na falta de acesso à cultura e como marca mais significativa, o genocídio contra a juventude negra.

Diante desse quadro histórico que sobrevive com força até hoje e de cuja superação depende o futuro de nosso país, não podemos ser menos contundentes. Não é possível não falarmos da situação da mulher negra, a maior vítima desse modelo perverso de sociedade, pois ela sofre simultaneamente os preconceitos do racismo, do machismo e o de ser pobre. Mas é exatamente essa mulher que representa a força social nas comunidades, representando a grande maioria dos “chefes de família”.

Assim, quando no dia 8 de Março as mulheres vão às ruas em luta por seus legítimos direito, é importante que todos pensem nessas informações e se juntem, mulheres e homens, numa luta que visa os mesmos fins, uma sociedade sem ódio, mais justa e solidária.


*É deputada Federal - PT/RJ