André Esteves - Diretor Executivo do Instituto Cyclus
André Esteves - Diretor Executivo do Instituto Cyclusdivulgação
Por André Esteves*
A pandemia antecipou as mudanças previstas no mercado de trabalho em, pelo menos, cinco anos. Vários estudos apontavam para uma transformação digital acelerada nos processos e nas relações funcionais entre colaboradores e organizações, já a partir de 2019. Isso impactou não apenas o dia a dia das empresas, mas também a carreira dos colaboradores. Diversas turbulências econômicas e sociais, vividas nestes últimos quinze meses, mudaram o eixo da forma que vivemos e trabalhamos. Fomos obrigados a conviver num ambiente de grande instabilidade e forçados a nos reinventar por uma questão de sobrevivência.
Um exemplo de algo que foi desmistificado é o trabalho remoto. O home office veio para ficar e tornou as pessoas mais produtivas durante um período bastante relevante. O desafio agora é equilibrar o tempo dedicado à vida profissional e à vida pessoal. Já houve uma queda significativa na produtividade por decurso de prazo. Há quem sinta falta do ambiente de trabalho, do distanciamento das rotinas da casa e, principalmente, do aprendizado permanente que o trabalho em equipe presencial permite devido a sua alta interação e imprevisibilidade situacionais. A pandemia e a digitalização do trabalho também evidenciaram a importância de cuidar da saúde mental e manter uma vida equilibrada.
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A aceleração digital nas organizações pode implicar o desaparecimento de algumas atividades devido à automação das funções. Um estudo recente da UFRJ elenca as profissões com maior probabilidade de serem substituídas, em curto prazo, pela revolução tecnológica. Entre elas: auxiliar e assistente administrativo, vendedor de comércio varejista, motorista de caminhão e, creiam, professores de Nível Médio e Ensino Fundamental.
Em contrapartida, outras atividades vão surgir para atender as demandas deste mundo, cada vez mais digital, e com expectativa de vida mais alta. Segundo o Center for the Future of Work , teremos até 2028 (logo ali) as seguintes novas carreiras profissionais: o detetive de dados, que vai analisar e propor insights a partir do Big Data; o gestor de desenvolvimento de negócios de inteligência artificial, para acelerar vendas e negócios; e o corretor de dados pessoais, para garantir maior rentabilidade na venda das informações confidenciais de um cliente.
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Existe uma necessidade urgente de requalificação para o trabalho no futuro. Esta foi a conclusão dos debates sobre o tema no Fórum Econômico Mundial de 2021, de Davos. É fundamental investir no aprendizado, e desenvolvimento, de novas habilidades, tanto comportamentais (soft skills) como técnicas (hard skills). Com ênfase na capacitação digital para atender as demandas de um mercado de trabalho mais informatizado.
O profissional que saiu na frente já percebe os benefícios desta requalificação. Entre eles podemos citar: o maior reconhecimento dos gestores pelo autodesenvolvimento; a melhor remuneração em cargos de coordenação e a criação de um network mais qualificado em sua área de atuação. Vários líderes estão se antecipando na criação de um plano para o futuro do trabalho com base no que têm experienciado em suas rotinas.
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O atual sistema de educação formal e corporativa, sobretudo no ensino superior, deixa várias lacunas na capacitação de habilidades exigidas pelo mercado de trabalho. Neste contexto, é possível identificar alguns gaps que serão questões-chaves para o futuro: a autogestão do conhecimento, que significa aprender diferentes conteúdos de forma autônoma; a visão sistêmica, que é a capacidade de entender o processo no qual o profissional está inserido; e a adaptação a novos contextos, que é a leitura dos diversos cenários, e seus desafios, de modo antecipado.
Para o futuro do mercado de trabalho apenas uma certeza: tudo é incerto.
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*É diretor executivo do Instituto Cyclus e professor universitário