Frei David Opinião O DiaDivulgação

Por Frei David, OFM*
Convivo há mais de 20 anos com o novo desembargador do TRF da 2ª Região, William Douglas. Nesse período, aprendemos o quão enriquecedoras são as diferenças. Sou negro, católico e de esquerda, acredito no socialismo, a partir da experiência de vida de Jesus Cristo. O Dr. William Douglas é branco, evangélico e é da direita ética e responsável. Já discutimos, nos irritamos e discordamos, com alto grau de respeito às diferenças. Seguimos rodando o país em nossa luta por Justiça. Cada um com suas crenças e ideologia. Ambos, não obstante, unidos pela crença em Jesus, na Justiça, na Educação e em dias melhores. Acreditamos ser possível acabar com o racismo, incluir pobres e negros e viver verdadeira democracia, com "paz e bem" que é o lema de São Francisco de Assis.
Frei David e William Douglas  - Divulgação
Frei David e William Douglas Divulgação
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Escrevo menos para parabenizá-lo pela posse e mais para dizer que diferenças de ideologia e de teologia podem não só dialogar como caminhar e lutar lado a lado. Nossos laços como humanos, brasileiros e cristãos são mais fortes do que as diferenças. Por isso, lamento que algumas pessoas de esquerda insistam em dizer que eu não deveria estar perto de um branco conservador, juiz, rico, louro de olhos azuis. Do lado de lá, sei que ele ouve que "pega mal" andar com padre de esquerda e atuar em prol do combate ao racismo e da inclusão educacional da população negra – pauta que, equivocadamente, é considerada de esquerda. É pauta da Constituição, logo, de todos os brasileiros. O racismo não é assunto de esquerda nem de direita, de cristãos ou de ateus, de progressistas ou conservadores. É problema real, pauta que precisa ser de Estado e não de governo. É um problema de todos. Também seu, que está lendo esse texto.
O então juiz federal, agora desembargador, William Douglas foi quem me mostrou que podem existir empresários do bem, brancos, ricos e igualmente comprometidos com a inclusão social e racial. Há mais de 20 anos, ele ministra palestras gratuitas, consegue bolsas de estudo e livros para a Educafro. Mesmo discordando a respeito da extensão a ser dada às cotas raciais, estivemos juntos nessa discussão no Senado, nas audiências publicas, em incontáveis viagens, assim como em aulas, conseguindo bolsas, motivando e preparando jovens e adultos para melhorarem de vida. Juntos vimos se multiplicarem, em poucos anos, o número de negros nas universidades. Vimos as estatísticas caminharem para um dia ficarem mais parecidas com a cara do povo brasileiro.
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William Douglas e Frei David - divulgação
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Ainda há muito a fazer. Mas fica o registro de que precisamos das autoridades e empresários com visão social. Precisamos dos brasileiros de todas as cores para vencermos o racismo e o preconceito. Não precisamos concordar em tudo, nem ter a mesma ideologia, ou religião, ou o que for. Basta sermos brasileiros e querermos um Brasil melhor para todos e focar nas pautas além e acima das diferenças.
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A tolerância e o respeito à diversidade precisam começar com os formadores de opinião, com a mídia, com os professores, com os líderes de cada grupo. Sem perder suas convicções, mas unindo-nos no que ajuda a dar dignidade ao povo. É preciso unir os diferentes em torno do que interessa aos preferidos de Deus. Que Deus abençoe o novo desembargador e a todos os homens de boa vontade!
*É diretor-executivo da Educafro