Leandro Santanna, diretor-geral do Museu da História e da Cultura Afro Brasileira
Leandro Santanna, diretor-geral do Museu da História e da Cultura Afro Brasileiradivulgação
Por Leandro Santanna*
Com a benção dos meus mais velhos, e a bênção dos meus mais novos, peço licença para buscar caminhos e Políticas Públicas de continuidade que reforcem a função deste lugar e sua potência em criar grandes motes para a discussão racial brasileira.

No final dos anos 1990, comecei a frequentar o Centro Cultural José Bonifácio como um jovem iniciante no mundo das artes que, vez por outra, aproveitava suas contínuas vindas de Queimados até o Centro do Rio para explorar os espaços culturais e bibliotecas, tão raros na Baixada Fluminense. Tal qual um deslumbrado de interior que chega na capita(r), eu passei muitas tardes na Celso Kelly, no CCBB e naquele lugar mágico da Gamboa, na época gerido por Hilton Cobra, onde os nomes das salas e espaços comuns perpetuavam, nas placas das paredes, personagens de enorme relevância para a história da cultura brasileira.
Ver o nome de Dona Ruth de Souza denominando um auditório e o de Abdias do Nascimento uma sala de exposições, entre tantos outros que demarcam todas as dependências do local, só não foi emoção maior do que me deparar com as imagens de uma exposição que estava no prédio por ocasião da minha primeira visita: Realeza Africana era o título uma série de quadros que tomavam conta dos corredores com enormes fotografias em sépia, mostrando a suntuosidade dos tronos, das vestimentas e dos personagens que protagonizavam o centro de cada moldura. Anos depois, frequentei com o mesmo gosto as incríveis Noites Negras na gestão da querida Carmen Luz.
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O José Bonifácio de hoje abriga o Museu da História e da Cultura Afro-brasileira, o MUHCAB. A implementação de um museu de território dentro do antigo Centro Cultural tem como objetivo expor seu acervo e interagir com a localidade, que é um dos pontos nacionais de resistência da herança africana, com o reconhecimento do título de Patrimônio da Humanidade concedido pela Unesco, buscando também espaço para se tornar uma referência da produção de artes plásticas contemporâneas no Rio de Janeiro.
Quando recebemos o desafio do secretário municipal de Cultura, Marcus Faustini, no final de janeiro, encontramos a maior parte do acervo ensacada e grande parte das esculturas de Orixás quebradas. A museóloga Talita Dester está debruçada na missão primeira da gestão, que é recuperar os danos ao acervo, com as possibilidades que temos, e listar o material danificado para que sua restauração possa ser encaminhada via parcerias – que já estamos buscando viabilizar.
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Mesmo com o museu fechado para o público, nos ocupamos em uma série de reuniões e visitas de engenheiros para o processo de obra do telhado, além das propostas de reestruturação do Conselho Consultivo e o desenho do projeto de uma associação de amigos que possa auxiliar na manutenção do espaço. Articulamos também a viabilidade de futuros programas contínuos de arte-educação com visitas teatralizadas, contando a história da região através do uso de mapping e itinerância pelo prédio.
Junto à historiadora e artista plástica Mariana Maia, pretendemos construir uma discussão permeada por Educação e Arte que transforme o lugar em um polo de experimentações da Lei 10.639/03 e do fazer preto nas artes plásticas brasileiras, assumindo o lugar de fala – e execução – de um equipamento cultural afrocentrado, sonhando sempre com um futuro melhor para o Brasil, pois como diria Lima Barreto, “atualmente, nesta hora de tristes apreensões para o mundo inteiro, não devemos deixar de pregar, seja como for, o ideal de fraternidade e de justiça entre os homens e um sincero entendimento entre eles".
Axé!

*É diretor-geral do Museu da História e da Cultura Afro Brasileira (MUHCAB)