Aristóteles Drummond: Jorge Picciani e Bruno Covas
Ruminar sentimentos menores referencias grosseiras não engrandece ninguém, muito menos uma sociedade que se pretende cristã e fraterna
Por Aristóteles Drummond*
Há dez dias, o Rio de Janeiro e São Paulo perderam políticos de relevância na vida pública. Ambos com história, e prematuros, não só o prefeito Bruno Covas, no auge da vida e da careira aos 41 anos, como Jorge Picciani, com 66. Neste Brasil de hoje, tão dividido e com pessoas dominadas por prejulgamentos severos, com posições radicais que não respeitam nem a morte, é triste verificar nas redes sociais manifestações cruéis por ocasião das duas perdas. Não que ambos não pudessem ser criticados, mas o momento seria de silêncio ou de lembrança de suas qualidades públicas ou pessoais.
Ruminar sentimentos menores referencias grosseiras não engrandece ninguém, muito menos uma sociedade que se pretende cristã e fraterna. Morrer não torna ninguém santo, mas não é de bom tom apedrejar. Uma avaliação correta, segundo as manifestações de amigos e colaboradores, correligionários, classe política em geral, foi feita a ambos e creio que na direção justa.
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Bruno Covas recebeu o respeito da classe política, incluindo o presidente da República, Jair Bolsonaro, de quem era adversário. O ponto alto das manifestações de pesar foi justamente a personalidade conciliadora, cordial ao se manifestar e a dedicação à vida pública, sem prejuízo do bom pai. Herdeiro político do avô, foi bem diferente no temperamento equilibrado, no bom senso e moderação que, segundo alguns, faltava a Mário Covas, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo. Mas a correta manifestação do presidente não foi suficiente para frear o mau gosto de muitos dos seus seguidores, como pode se constatar no Twitter e outras mídias sociais.
Com Jorge Picciani, embora político local com marcante passagem na Assembleia Legislativa do Rio, que presidiu com liderança e reconhecimento, as manifestações foram dirigidas ao amigo solidário, generoso, prestativo e cuidadoso em atender a seus eleitores. O que, aliás, lhe valeu ver dois de seus filhos com mandatos eletivos.
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O senador Flávio Bolsonaro, que foi com ele deputado por muitas legislaturas, também se manifestou de forma elegante sobre a perda do político de relevância no estado que representa no Senado. Também não foi suficiente para registros grosseiros, cruéis até, de bolsonaristas, aliados à pior esquerda, da intolerância, do ódio. Corretos foram o governador Cláudio Castro e o prefeito Eduardo Paes, que sem temer o patrulhamento, compareceram ao velório e se manifestaram com respeito ao veterano político.
Antigos deputados na Assembleia Legislativa do Rio se fizeram presentes, como Aloisio Teixeira, Gilberto Rodriguez e Délio leal. Que estas duas mortes de políticos relevantes em dois importantes estados sirvam de meditação para os militantes de todos os matizes que se deixam levar por sentimentos até há pouco estranhos ao perfil do brasileiro.
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Este entulho dos anos PT, encampado com entusiasmo pelos bolsonaristas fanáticos, não construirá o que os homens de boa vontade querem para o Brasil, e que só será possível com diálogo, respeito ao contraditório e liberdade. Sem preconceitos e intolerância. Não se trata da hora de julgar os dois que partiram. Apenas de lembrar as qualidades que tiveram.