Juliana Brizola é deputada (Líder da bancada do PDT na Assembleia Legislativa do RS)Divulgação

Por Juliana Brizola*
A líder estudantil chilena e ex-vereadora, Iraci Hassler, foi eleita, a nova prefeita da capital, Santiago do Chile, obtendo 38,62% dos votos contra 35,28% de seu opositor, Felipe Alessandri. E os países que se saíram melhor e com menos danos da crise causada pela pandemia da Covid-19 são dirigidos por mulheres, como as ocupantes de cargos no parlamento na Islândia, Nova Zelândia, Taiwan, Singapura, Noruega, Finlândia, Alemanha, Dinamarca e Bélgica.
E apesar de o trabalho das lideranças femininas dos países em desenvolvimento não ter a mesma visibilidade, a América Latina está acima da média mundial no índice de representação das mulheres nos legislativos, ocupando 31,6% das vagas nas Câmaras de Deputados, de acordo com a pesquisa de Beatriz Pedreira (diretora do Instituto Update).
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Os dados da pesquisa revelam que as mulheres ainda são agredidas, de alguma maneira, por conta de gênero. Recentemente, fui atacada pelo ator José de Abreu ao anunciar o meu apoio ao candidato do meu partido para 2022. Abreu postou no Twitter o seguinte: “Gente, ela tem parente? Manda avisar que os remedinhos acabaram. Entrou em surto psicótico”. Senti o machismo na reação do ator que “desqualifica uma mulher que se posiciona, mesmo tendo mandato, chamando-a de louca”.

Nessa pesquisa foram mapeadas 600 mulheres e entrevistadas 107, entre as quais 96 ocuparam cargos eletivos. Nesse sentido, as mulheres na América do Sul têm avançado na política. Pela primeira vez, uma mulher foi eleita prefeita de Bogotá (Colômbia), Claudia López Hernandes. O Chile é o primeiro país da América Latina a eleger uma mulher para a Presidência, Michelle Bachelet.
E embora, Dilma Rousseff tenha sido a primeira mulher eleita Presidente da República Federativa do Brasil, o nosso país está abaixo da média, se comparado a outros países da região, no quesito “participação da mulher na política”: 12% prefeitas eleitas e 22,6% na Câmara dos Deputados.

Para entrar na arena política, as brasileiras têm que superar muitos obstáculos, e o primeiro deles, é o de viver em um país patriarcal, machista e campeão em feminicidio, cujo mercado de trabalho restringe oportunidades para elas e oferece salários 30% inferiores aos dos homens. E ainda foi preciso incentivar a participação das mulheres na política com a aprovação da Lei eleitoral determinando cota de 30% para candidaturas femininas. Em 2020, somos 15% na Câmara dos Deputados, 13% no Senado.

A misoginia na política brasileira é um desafio e suscita muitas questões: para acabar com o monopólio masculino do território político, a melhor estratégia é votar com consciência de gênero e apoiar candidaturas femininas? A longo prazo, a melhor forma de garantir a presença de mulheres na política é mudar a cultura da sociedade, incentivando as mulheres, desde meninas, a ocuparem espaços de poder.
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*É deputada estadual, líder da bancada do PDT na Assembleia Legislativa do RS. Graduada em Direito, com especialização e Mestrado em Ciências Criminais


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