Em 26 de julho é celebrado o Dia Mundial de Proteção aos Manguezais. Zona de transição entre o ambiente marinho e o terrestre, esse ecossistema – com a sua vegetação resistente ao sal marinho – representa a linha de frente da proteção do continente contra o aumento das marés em consequência da elevação da temperatura do planeta. Considerado um berçário natural, procurado especialmente pela fauna
aquática em busca de um refúgio no período de reprodução e de alimento farto, os manguezais representam menos de 1% de todas as florestas tropicais do mundo, mas desempenham um papel fundamental para garantir a vida na zona costeira no planeta.
Cientistas comprovaram que os manguezais sequestram quatro vezes mais carbono do que qualquer outro tipo de floresta. Além disso, a capacidade de armazenamento é dez vezes superior, o que torna a preservação e conservação desse ecossistema ainda mais relevante. Mas ainda há outro fator que torna os manguezais tão estratégicos na natureza: sua resiliência e a rápida capacidade de recuperação.
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No último século, a região metropolitana do Rio de Janeiro perdeu 40% das áreas de mangue. Há quase 25 anos, o manguezal de Gramacho, às margens da baía de Guanabara e ao lado da área onde funcionou durante décadas o maior aterro sanitário da América Latina, sofria com o extermínio de toda a cobertura vegetal. Mas com muito trabalho e dedicação, foi possível reverter toda essa degradação.
Atualmente, numa área de 1.3 milhão de metros quadrados, coordeno uma equipe de dez pessoas que trabalha no replantio de mudas de espécies nativas, além de manterem uma barreira física com ajuda de telas para evitar que o lixo que chega à baía de Guanabara – grande parte proveniente dos rios Iguaçu e Sarapuí – não atinja o manguezal. É uma dedicação diária porque a proteção física não segura todo tipo de
lixo. Com a maré cheia, itens mais pesados, como sofás e cadeiras arremessados nas águas, acabam rompendo as telas. Por isso, é necessário não esmorecer e fazer a nossa parte diariamente.
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Todo esse trabalho compensa. Ao comparar imagens do ano de 1995 com as atuais, é possível constatar a recuperação. É a natureza contra-atacando e mostrando a sua força e, aos poucos, atraindo de volta espécies como capivaras, lontras, além de peixes mais resistentes, como a tainha. Uma contraofensiva contra o processo de degradação do verde e que mostra uma capacidade extraordinária de fomentar a vida, em qualquer condição.
Se foi possível avançar na recuperação de uma área com a vegetação anteriormente dizimada, é possível recuperar e ampliar outros manguezais ao redor de toda a baía de Guanabara. Além do impacto positivo na biodiversidade e na pesca, geraria grande quantidade de empregos diretos relacionados com a produção de mudas, preparação das áreas de plantio, manutenção e plantio, além de ser possível abrir a visitação para
o ecoturismo, a exemplo do que ocorre em diversos países.
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*Mário Moscatelli é biólogo