Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) Jonas Pereira / Agência Senado

O aprofundamento das investigações da CPI da Pandemia tem despertado diferentes comportamentos na sociedade brasileira, que há um ano e meio convive com a agonia e a incerteza causadas pela chegada do novo coronavírus. Se por um lado a comissão parlamentar de inquérito representa uma esperança para interrupção do ciclo de contaminações e mortes decorrentes da covid-19, ela também estimulou a ira dos responsáveis pelo caos instalado com a pandemia, inaugurando uma nova fase na tentativa de destruição da democracia em nosso país.

As investigações deixam evidente que o enfrentamento à crise sanitária desencadeada pelo novo coronavírus por parte do governo federal foi marcado pelo improviso, isto é, a completa falta de coordenação na implementação das medidas de contenção do espalhamento do vírus e proteção da população, além da aposta em abordagens clínicas e rotinas terapêuticas comprovadamente ineficazes para a profilaxia e tratamento da covid-19.

Paralelamente, a análise documental e coleta de depoimentos indicam uma postura dúbia do governo federal na aquisição de vacinas para imunização da população brasileira. O descaso com a oferta de alguns imunizantes e a avidez com que se buscou outros pode esconder interesses poucos republicanos envolvendo as negociações, sugerindo a existência de esquemas para desvio de dinheiro público e enriquecimento ilícito de agentes públicos e privados.

As denúncias de corrupção foram apresentadas à CPI da Pandemia e envolvem a compra de diferentes vacinas, todas tendo a participação de empresas intermediárias na aquisição das doses. Algumas, inclusive, sem nenhuma relação com a área farmacológica ou mesmo da saúde. Outra semelhança é o aparente amadorismo que caracteriza os supostos negociadores destacados pelas intermediárias, todos alheios à dinâmica econômica do setor.

Não restam dúvidas de que a aquisição de vacinas para aplicação na população brasileira foi usada em uma tentativa de desvio de recursos públicos, com a celebração de contratos superfaturados e distribuição de propina. Resta saber a extensão do esquema, pessoas envolvidas e dimensão dos prejuízos. Não apenas materiais, mas principalmente humanos. Afinal, são 560 mil vidas perdidas desde a chegada do novo coronavírus ao Brasil.

As descobertas feitas pela CPI da Pandemia desencadearam o recrudescimento do movimento autoritário no país, com novas ameaças à Democracia e a eleição do inimigo da vez: as urnas eletrônicas e o processo eleitoral brasileiro, considerado vanguarda mundial e objeto de estudo e análise em diferentes centros de pesquisas espalhados pelo mundo.

A estratégia não é inédita e caracteriza o governo Bolsonaro: sempre que se vê acuado, cria factoides e promove linchamentos de reputações na tentativa de distorcer fatos e emplacar uma narrativa falaciosa, com abuso de notícias falsas e procurando intimidar adversários. Entretanto, são inócuas.
A CPI da Pandemia continuará os seus trabalhos e os responsáveis pelo genocídio que matou mais de meio milhão de brasileiros serão responsabilizados pelos seus crimes.
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Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) é vice-presidente da CPI da Pandemia