Júlio Furtado, colunista do DIADivulgação

Ouvi, certa vez, uma máxima que me marcou bastante: “Faça o bem nem que seja por vaidade. Um dia aprenderá a fazê-lo por justiça e, quem sabe, por prazer”. Não me lembro bem qual foi o contexto, mas o teor da frase dispensa contextualizações.
Nesses tempos de pandemia essa afirmativa tem ecoado em meus ouvidos com certa frequência, talvez porque nunca tenhamos estado numa situação tão correlata. Somente a vacinação da grande maioria da população do planeta é que evitará o surgimento de novas cepas do vírus que ameaçam a efetividade de todas as vacinas já existentes ou que estão por vir.
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Essa situação soa como uma aprendizagem forçada do princípio da interconexão holística em sua aplicação às relações humanas: só estamos bem se todos estiverem bem. Essa máxima pode ser usada como antídoto ao egoísmo inerente ao ser humano que nos faz adeptos do bloco “vacina pouca, minha dose primeiro”.
Tomar a vacina parece provocar sentimentos de gratidão e alívio, temperados pela preocupação com a garantia de real proteção. Não deveria faltar nesse mix de emoções, a expectativa e apreensão, típica da torcida para que todos se imunizem. Estamos diante da necessidade urgente de desenvolver a cooperação, a solidariedade e a empatia. O outro não é apenas o outro, mas um prolongamento de mim mesmo e educar as futuras gerações nesse sentido torna-se essencial. A grande pergunta que se faz é como educar para a interconexão, para a cooperação, para solidariedade e para a empatia num mundo que cultiva valores e ações egoístas e consumistas?
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O mundo empresarial saiu na frente da escola e já implanta, há alguns anos, certificações sustentáveis e programas de responsabilidade social, impulsionado pelo princípio econômico de que o atendimento das necessidades básicas de um povo é pré-requisito para seu desenvolvimento econômico. A escola, por sua vez, caminha a passos lentos no sentido de implantar uma dinâmica que vise ao desenvolvimento de valores altruístas que sustentem atitudes fundamentais a uma sociedade em que o coletivo não seja o contrário de individual, mas seu complemento.
Fazer o bem por justiça e, quem sabe, por prazer é a vacina que a sociedade precisa para a cura de diversos males existentes e que estão por vir. Atentemos para o fato que essa vacina não será produzida em laboratórios, mas nas duas principais instituições educativas: família e escola.
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Júlio Furtado é doutor em Ciências da Educação