Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação

Acalmados os ânimos com a votação da chamada PEC do voto impresso, cabe uma avaliação serena da questão, olhando para a frente e não pelo retrovisor. A evolução para o voto eletrônico, permitindo a conferência pelo eleitor, e a urna de reserva para eventual auditoria pode ser o caminho do futuro. A resistência, da qual a Câmara dos Deputados foi intérprete, se devia muito a inoportunidade, a um ano do pleito, envolvendo 400 mil urnas.

A ênfase dada em meio a descabidas declarações da fragilidade do sistema, justifica, sim, a desconfiança do tom do debate. Foram 11 pleitos com o sistema atual e não se sabe de nenhum caso de fraude. Tivemos eleições ano passado em todo o país. E, um ano depois, esta estranha pressão. A aprovação teria sido temerária pelas próprias dificuldades da habilitação das mil urnas. O TSE já está dando um reforço na segurança e na transparência do processo.

Cabe, serenamente, avaliar que não se tratou do mérito, mas da oportunidade. E com detalhes como o constrangimento da Câmara votar diante do insólito desfile militar na mesma data. Para prestigiar a nossa Marinha, teria sido mais oportuno o presidente determinar ao Colégio Pedro II restaurar o nome do Almirante Rademaker ao Pavilhão da Reitoria, no Rio, arrancado no governo Dilma.

Vivemos uma época em que são poucos os exemplos de sabedoria política, de uma visão racional e não emocional dos fatos. O clima de tensão e contestação, geralmente, não atendem ao interesse nacional e ao bem-estar da população. Entre os mais experientes, competentes, militantes de nossa vida pública está o deputado e ex-governador de Minas por dois mandatos e tendo feito seu sucessor, Aécio Neves Cunha. Nasceu e entrou na vida pública com dois exemplos admiráveis. O pai, Aécio Cunha, político exemplar, discreto, mas atuante na defesa de Minas e de princípios éticos e morais. Exerceu seus mandatos cercado de respeito e admiração.
O avô materno, Tancredo Neves, com quem trabalhou diretamente muito jovem, é personagem marcante na vida pública brasileira. Honra este DNA, sereno e sábio e maduro, diante de uma das mais desleais e desonestas campanhas no sentido de o intimidar e o afastar da vida pública. Mas ele não recuou e o eleitor mineiro o confirmou.

Aécio Neves mostrou sua sabedoria nesse caso ao se abster na votação. Deu o recado correto ao país de que a proposta, independentemente de seu mérito, era inoportuna e estava sendo discutida em termos políticos e não racionais. Não podia
aprovar a aventura da troca a curto prazo, sob o risco de tumultuar a realização das eleições de 2022, e não podia condenar uma proposta que, estudada, pode vir a representar um aperfeiçoamento do sistema eleitoral. Mostrou sabedoria, coragem, independência.

Sendo ainda jovem, o político mineiro terá tempo para consolidar sua presença tão relevante quanto oportuna no confuso momento político que vivemos. Aécio tem demonstrado, nestes anos de cruel perseguição, que os seus trunfos, reconhecidos pela intuição característica do povo mineiro e brasileiro, são a tolerância e a humildade como armas da caminhada da vida pública.
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Aristóteles Drummond é jornalista