Marcos EspínolaDivulgação

Muito se discute sobre o racismo e preconceito em geral. De fato, evoluímos no debate nas últimas décadas, mas sabemos que há ainda muito caminho a percorrer. Prova disso é que quase 80% das vítimas de homicídios serem pessoas negras. E isso se mistura com a classe mais pobre, uma realidade no Brasil que precisa de medidas urgentes, já que os negros representam mais de 50% da população e boa parcela dela vive na linha da pobreza.
Segundo dados do Atlas da Violência 2021, a chance de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 2,6 vezes superior à de uma pessoa não negra. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes negros no Brasil em 2019 foi de 29,2, enquanto a da soma dos amarelos, brancos e indígenas foi de 11,2. Historicamente o negro é massacrado no Brasil e no mundo. Mas por aqui, um país não só de maioria negra, mas de uma população altamente mestiça, o cenário deveria ser diferente se houvesse por parte das autoridades mais investimento em conscientização e Educação.
A desigualdade por aqui é tamanha e atinge diretamente a classe pobre. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgados em 2019, portanto antes da pandemia, são alarmantes. O Brasil é o recordista mundial em violência letal, concentrando 14% dos homicídios do mundo. Toda essa violência tem “cara”, ou seja, os mais pobres, jovens e negros.
A juventude do país, da faixa entre 0 e 19 anos, é um alvo da violência. Mais de 53% do total de vítimas de homicídios em 2018 foram jovens. Se ampliarmos a amostra de 1980 até 2018 foram mais de 265 mil crianças assassinadas no país.
Agora, com a pandemia, novamente se faz nítida a desigualdade. A Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares divulgou no começo do ano estudo, com base em dados da PNAD Covid-19 (pesquisa feita pelo IBGE) e do banco de internações de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que leva à conclusão que há desigualdades relativas à testagem, letalidade e óbito de acordo com a renda, cor de pele, escolaridade da população e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios. A taxa de letalidade é de 56% nos pacientes brancos internados e de 79% entre os não brancos.
Enfim, esses e muitos outros dados comprovam que a população negra e pobre continua na berlinda, mas o que é preciso saber é até quando a sociedade brasileira aceitará essa realidade que persiste ano após ano.

Marcos Espíndola é avogado criminalista e especialista em segurança pública