Marcos EspínolaDivulgação

O brasileiro é conhecido no mundo todo pela sua irreverência. No geral, é visto como um povo acolhedor e aberto à diversidade. É famoso também pelo jogo de cintura, o famoso “jeitinho brasileiro”, uma marca registrada que tem o seu lado positivo no que diz respeito a se superar e se reinventar, mas também tendo o lado obscuro de querer se dar bem em tudo, burlando regras e, às vezes, prejudicando o semelhante em benefício próprio.
Um rótulo que incomoda alguns, mas que de fato chega a ser algo cultural do nosso povo que, por pensar assim, acaba sendo uma presa fácil para as chamadas pirâmides que prometem lucros e vantagens mirabolantes, mas que no geral acaba em grandes prejuízos. E isso acontece frequentemente, como a história recente da empresa de investimento em criptomoedas em Cabo Frio, na qual seus representantes foram presos por suspeita de fraude.
Para especialistas, esquemas como esse que está sendo investigado não podem ser considerados investimentos de fato. Em verdade, não desmerecendo os profissionais do mercado financeiro, não é preciso ser especialista para perceber a tamanha furada que esse tipo de operação representa. Antigamente, isso era conhecido simplesmente como o “conto do Vigário” que, surpreendentemente ainda vigora nos dias de hoje, obviamente de uma forma mais sofisticada.
Num cenário de crise econômica e quase recessão, como alguém pode acreditar que irá investir no que quer que seja e terá um retorno acima de 10%? Inocência, milagre ou malandragem? Pois é, algo milagroso com certeza não é e as outras duas hipóteses podem até ser consideradas porque enquanto houver um inocente o esperto se dá bem. Acontece que tal inocência nem sempre é tão pueril assim, ou seja, a aposta de tirar vantagem acaba cegando o indivíduo que despreza o risco do negócio. Uma espécie de inocência maliciosa.
A bola da vez são as moedas virtuais, porém co-protagonizamos muitas outras falcatruas no dia a dia, seja quando furamos uma fila, damos propina, estacionamos em local proibido etc. Hábitos que muitas vezes se configuram em desrespeito ao próximo, mas em outras em crime mesmo.
Nas vésperas de mais um ano de eleição, cuja discussão irá novamente girar em torno de corrupção, honestidade, ética e moral daqueles que se apresentarão como opção para governar, vale o povo refletir sobre sua postura e do quanto o seu jeitinho contribui para a vasta corrupção no país. Afinal, cada povo tem o representante que merece.

Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em Segurança Pública