Raul VellosoReprodução

O quadro diante de nós não é nada simples. A vacinação está cada vez mais intensa, mas as sequelas (alto número de mortos por habitante) obviamente ficaram e a volta ao normal pós-covid ainda é lenta. Fatores externos como o choque do petróleo podiam não estar acontecendo (mas estão), e com a disparada do dólar a inflação anual acima de dois dígitos está de volta, em que pese o forte grau de desaquecimento da Economia. Se a Economia já estivesse reaquecida, o Banco Central subiria ainda mais os juros e traria nova força baixista para a Economia.

O governo demonstra não saber o que fazer com o petróleo (pois delegou ao Centrão encontrar a saída na Câmara), e apesar de ter quase US$ 400 bilhões no caixa e um setor de commodities bombando, não sabe como impedir a pressão altista da taxa de câmbio, muito afetada pela baixíssima credibilidade governamental (vejam as pesquisas...). Imaginem se estivéssemos na dificílima situação argentina, que não tem dólares quaisquer no cofre e tem de arranjá-los a qualquer custo no exterior, especialmente via acordo extorsivo com o FMI.

Para o governo, o problema fiscal é um ponto saliente da deterioração, pois novas bombas apareceram, como a do aumento dos gastos com precatórios e a pressão política para ampliar bastante o Bolsa-Família com fins eleitoreiros é muito forte. Nessa área, se agarra ao falecido “teto dos gastos”, cujo cumprimento até agora só resultou em praticamente zerar os investimentos federais. Além disso, permanece fiel à velha visão da Universidade de Chicago, onde se formou nosso inexperiente ministro da Economia, que reza, basicamente, duas coisas: não pode aumentar gasto público, nem mesmo de investimento, e não pode emitir moeda – nem dívida num sentido amplo – para financiá-lo.
Como sair desse imbróglio é algo que teremos de sofrer ainda muito para ver acontecer, cabendo lembrar que os donos da Universidade de Chicago, ou seja, os norte-americanos, seguindo a nova linha que se forma nos meios acadêmicos sofisticados de lá, vão gastar bastante dinheiro para recuperar o tempo perdido. Lá se descobriu que tudo o que se pensou há séculos sobre combate à inflação precisa ser urgentemente revisto.
Já aqui, na idade da pedra lascada... tome sofrimento dos mais pobres. Por aqui, em meados de 2020 a trajetória do PIB mergulhou em voo livre para baixo, para retornar após algum tempo à borda do precipício, mas de lá para cá está estagnada nessa mesma posição, com as projeções de órgãos acreditados sinalizando a mesma estagnação até o final de 2022. Ou seja, o país primeiro desabou, retornou à borda do precipício, e depois tenderá a ficar parado ao longo do tempo, se nada de eficaz for feito para evitar isso.
É preciso se convencer de que, sem investimento público bem mais alto dos entes subnacionais, não haverá como expandir a taxa de crescimento do PIB, seja via expansão de capacidade, seja via aumento de produtividade, além de, como já provado, melhorar a distribuição de renda. Basta ajustar sua Previdência e o espaço aparecerá.
Raul Velloso é consultor econômico