Carina Alves é presidente do Instituto Incluir, referência em múltiplos projetos para pessoas com deficiênciaDivulgação

Dia 3 de dezembro é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Gente que para coexistir se conecta a um universo pouco comum aos considerados eficientes, a linguagem multiformato. Libras, braille, audiodescrição, pictogramas, leitura simples, são alguns dos recursos que aproximam tais cidadãos da sociedade global. Refugiados de guerra, pessoas com síndromes genéticas, gente com corpos redesenhados por doenças graves ou com membros extirpados por acidentes, seres humanos atingidos irreversivelmente diante do mundo. A quem o multiformato serve? Ao outro.
A professora e escritora Célia Sousa, do Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID), do Politécnico de Leiria, Portugal, é um foco de luz no mundo para esse assunto. Tenaz na multiplicação de saberes, Phd que orienta educadores brasileiros em teses de doutoramento, é ponte que faz Portugal e Brasil se unirem através da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) e do Instituto Incluir, sediado no Rio de Janeiro, para cooperação na área de acessibilidade.
A assinatura do protocolo prevê a realização de seminários e outras ações de um amplo calendário que resultará em salvaguarda do maior patrimônio, a vida. Uma das primeiras ações no âmbito da referida renovação, vai permitir a continuidade da formação no âmbito da Comunicação Alternativa Aumentativa e da Acessibilidade.
Mais de um bilhão de pessoas em todo o planeta convive com algum tipo de deficiência. O número só aumenta, independentemente do regime de governo, da moeda de cada país, das temporadas de moda, da tendência de momento a cada estação do ano. A cada quatro anos nas Paralimpíadas, o Brasil está sempre bem representado por atletas de alto rendimento. Entre uma e outra Paralimpíada, porém, quase inexiste publicamente a figura da pessoa com deficiência.
A longo prazo, que de todo esforço de cooperação resulte a possibilidade de uma sociedade em que todos tenham acesso a medalhas. É ou não é digno de pódio uma pessoa conseguir amarrar o próprio sapato e dar 30 passos? Ou mães conquistarem lugar de fala, obtendo atendimento nutricional, social e psicológico para cuidarem de seus filhos? Afinal, a criança e o jovem em situação de deficiência representam 85% das famílias chefiadas apenas por mulheres no Brasil.

Que o horizonte traga o fim da barbárie da exclusão como intenciona o Decreto 10.502/2020, na contramão dos compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, na Constituição Federal de 1988 e na Lei Brasileira de Inclusão, a prever a matrícula de crianças e adolescentes com deficiência em instituições especializadas. Segregação jamais servirá à construção de um mundo mais justo, que principia no encontro com a diferença na escola.
Carina Alves é presidente do Instituto Incluir, referência em múltiplos projetos para pessoas com deficiência e autora do livro "Covid-19: Emoções em Colapso