Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

Mais um ano se encerra. Outro ano difícil por conta da pandemia que persiste. Economia parada, povo com fome. Somado a isso está a violência urbana, com roubos, assaltos, tiroteios e balas perdidas que continuam vitimando centenas de brasileiros, essencialmente nas grandes cidades.
Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), os homicídios dolosos (mortes intencionais) no Estado do Rio caíram 6% nos nove primeiros meses do ano na comparação com o mesmo período de 2020. No total, foram 2.505 mortes, menor número para estes meses desde quando se iniciou a série histórica do ISP, porém ainda estamos falando de um número absurdo de vidas perdidas.
Essa realidade é ainda mais dolorosa quando identificamos que boa parcela dessas mortes são de crianças. Relatório da Defensoria Pública do Estado do Rio mostra que quase 10 mil inquéritos estão abertos sobre mortes de crianças e adolescentes nos últimos 21 anos. Quase 80% são por crimes dolosos. De 9.542 casos de homicídios de pessoas entre 0 e 17 anos, cujas investigações estão em aberto, 79,5% deles são crimes dolosos e 20,5% culposos. A cidade do Rio concentra 34,5% do total de casos.
Entre os crimes dolosos praticados contra crianças e adolescentes entre 2000 e 2021, os mais representativos são os homicídios provocados por projétil de arma de fogo, que correspondem a 50% do total.
E não para por aí. A Região Metropolitana, ainda em setembro, chegou a marca de 100 policiais militares baleados em 2021. Segundo a plataforma Fogo Cruzado, o número revela tendência de alta no impacto da violência armada sobre os agentes de segurança, já que o mesmo índice só foi alcançado no dia 25 de novembro do ano passado – uma diferença de quase três meses.
Em verdade, a guerra continua. A apreensão de armas e prisões em flagrante, só em setembro, foram de 496 armas de fogo tiradas de circulação no estado, sendo 18 fuzis. O número é 13% maior que o registrado no mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, 5.306 armas foram apreendidas, sendo 278 fuzis.
Isso significa que, em média, 19 armas por dia foram retiradas das mãos dos criminosos. Em nove meses, as polícias estaduais prenderam em flagrante 25.621 pessoas e realizaram 16.423 apreensões de drogas em todo o estado.
Enfim, para muitos, é um eterno ato de enxugar gelo. Faz sentido, pois precisamos de uma releitura no combate ao crime. Políticas públicas mais eficazes e baseadas na inteligência. Além disso, como já citamos repetidas vezes, o Estado precisa entrar com outros serviços sociais, principalmente investindo na Educação. Só assim caminharemos na direção de amenizar os trágicos saldos da violência.

Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública