Maria Thereza Toledo Divulgação
Quero chamar atenção aqui para o jogo que acontece fora da casa. Mesmo nos anos em que o BBB não alcançou índices tão elevados de audiência, o programa nunca deixou de provocar engajamento movido a paixões. Nas redes sociais, especialmente no Twitter, as torcidas se organizam em torno dos favoritos e viram verdadeiros exércitos votantes. Os rivais se ofendem muitas vezes de forma mais veemente do que os próprios jogadores dentro da casa. A relação da torcida com o seu favorito é a de perdoar qualquer deslize; o favorito é intocável. O avesso disso é experimentado com intensidade e ultrapassa o universo do programa.
Para compreender esse engajamento passional, que ultrapassa as paredes da casa, é importante fazer breve análise da cultura contemporânea, marcada pelo culto à felicidade propagada nas redes. São selfies, checkins, aplicativos que “embelezam” e disfarçam imperfeições, necessidade de fotografar o carro novo, a festa, o que come e para onde viaja. As redes sociais se firmaram como um local para propagação do ideal de felicidade. Felicidade essa que muitas vezes está longe de ser experimentada.
Todo participante é imediatamente alçado à condição de influenciador. Já na primeira semana, o número de seguidores aumenta. É claro que isso vai variar de acordo com o movimento dentro da casa, mas a visibilidade tão desejada pelas pessoas, sobretudo os jovens, está garantida para quem entra na “casa mais vigiada do Brasil”. Isso provoca fenômeno de identificação do público com os participantes que tem um caráter peculiar. Os artistas têm milhões de seguidores e as pessoas acompanham, encantadas, a vida de seus ídolos nos stories. Mas no BBB aqueles que se tornam ídolos parecem mais próximos. Por serem “gente como a gente”, a identificação tem caráter quase concreto. Os participantes viram ídolos e, ao mesmo tempo, se mostram próximos.
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