Maria Thereza Toledo Divulgação

O Big Brother Brasil está na sua 22ª edição e vive um de seus tempos de mais sucesso nos últimos anos. Os números da audiência e as citações do programa nas redes sociais revelaram um renascimento do BBB. Esse fenômeno fez com que os estudiosos de diferentes áreas voltassem sua atenção ao programa. No campo da Psicologia, são muitos os aspectos que podemos destacar: a forma como as pessoas reagem a situações inesperadas, como são formadas as alianças, o impacto da exposição e o medo da rejeição, entre outros.

Quero chamar atenção aqui para o jogo que acontece fora da casa. Mesmo nos anos em que o BBB não alcançou índices tão elevados de audiência, o programa nunca deixou de provocar engajamento movido a paixões. Nas redes sociais, especialmente no Twitter, as torcidas se organizam em torno dos favoritos e viram verdadeiros exércitos votantes. Os rivais se ofendem muitas vezes de forma mais veemente do que os próprios jogadores dentro da casa. A relação da torcida com o seu favorito é a de perdoar qualquer deslize; o favorito é intocável. O avesso disso é experimentado com intensidade e ultrapassa o universo do programa.
A rapper Karol Conká, que foi eliminada com 99,17% dos votos, na edição de 2021, revelou no programa de Ana Maria Braga as ameaças sofridas por internautas, dirigidas não só a ela, mas a seus familiares. Mas como entender ameaças direcionadas à sua família?

Para compreender esse engajamento passional, que ultrapassa as paredes da casa, é importante fazer breve análise da cultura contemporânea, marcada pelo culto à felicidade propagada nas redes. São selfies, checkins, aplicativos que “embelezam” e disfarçam imperfeições, necessidade de fotografar o carro novo, a festa, o que come e para onde viaja. As redes sociais se firmaram como um local para propagação do ideal de felicidade. Felicidade essa que muitas vezes está longe de ser experimentada.

Todo participante é imediatamente alçado à condição de influenciador. Já na primeira semana, o número de seguidores aumenta. É claro que isso vai variar de acordo com o movimento dentro da casa, mas a visibilidade tão desejada pelas pessoas, sobretudo os jovens, está garantida para quem entra na “casa mais vigiada do Brasil”. Isso provoca fenômeno de identificação do público com os participantes que tem um caráter peculiar. Os artistas têm milhões de seguidores e as pessoas acompanham, encantadas, a vida de seus ídolos nos stories. Mas no BBB aqueles que se tornam ídolos parecem mais próximos. Por serem “gente como a gente”, a identificação tem caráter quase concreto. Os participantes viram ídolos e, ao mesmo tempo, se mostram próximos.
Essa relação com o participante, que mistura idealização e proximidade ao mesmo tempo, provoca engajamento apaixonado, que ultrapassa o contexto do programa. Soma-se a isso a própria dinâmica do reality, em que o público decide o destino dos participantes. A possibilidade de ser responsável por seu favorito vencer o programa incita o jogo das paixões e explica, em parte, a movimentação das torcidas que brigam entre si.
O BBB provoca uma sensação única de empoderamento sobre a vida de um ídolo. O ideal e o real se misturam como em nenhum outro programa, tornando o BBB fórmula infalível de inflamar as emoções e fazer com que o público não se canse de “dar aquela espiadinha”.
Maria Thereza Toledo é doutora em Psicologia Clínica e professora do curso de Psicologia do Centro Universitário IBMR