Ingrid GerolimichDivulgação

Brasil é campeão de cirurgias plásticas, com aproximadamente 1,5 milhão de cirurgias ao ano. O país conseguiu ultrapassar os EUA, até então a maior referência nesta área. Outro ranking liderado pelo nosso país é o das cirurgias estéticas entre adolescentes, com um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens brasileiras de 13 a 18 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), mostrando que a busca pelo ideal do “corpo perfeito” tem começado cada vez mais cedo.
Se estes dados são motivo de comemoração pelo mercado das cirurgias estéticas, por outro lado são razão de preocupação entre especialistas da área de Saúde. Isto porque, em nome de um padrão de beleza em constante mudança e cada vez mais impossível de ser atingido, as mulheres têm enfrentado todo tipo de risco à sua saúde física e mental, pagando, muitas vezes, um preço alto demais.
É neste contexto que se encontra a doença do silicone, que funciona como uma espécie de guarda-chuva para representar um conjunto de outras doenças associadas aos implantes de mama, podendo causar desde sintomas como: fadiga crônica, problemas de visão, perda de memória, entre muitos outros, até o BIA ALCL, um tipo de câncer que pesquisas associam às próteses de silicone.
O implante de silicone é o procedimento estético preferido das brasileiras, como também é a cirurgia plástica mais realizada no mundo todo, tratando-se de uma indústria extremamente lucrativa e bastante controversa, já que seus males para a saúde vêm sendo relatados há mais de 30 anos.
Por esta razão é que um movimento cada vez maior de mulheres está fazendo o chamado Explante, que é a retirada das próteses de silicone, com o intuito de se livrarem das doenças provocadas pelos implantes, assim como também por buscarem uma maior aceitação em relação ao próprio corpo.
Como elas, eu também fiz o meu explante, em novembro de 2020. E, posso dizer que a cirurgia foi uma oportunidade de construir uma relação diferente com o meu corpo. Foi por esta razão que fiz o documentário Explante, como forma de levar informação a mais mulheres e de contribuir para este debate sobre como a pressão estética pode nos adoecer e nos aprisionar.
A pressão estética leva muitas de nós a uma percepção distorcida sobre nossos corpos, enxergando diferenças como defeitos e alçando como modelo a ser seguido aqueles corpos irreais da mídia e das redes sociais, na maioria das vezes alterados por filtros e aplicativos. Isto, junto às promessas milagrosas de grande parte deste mercado das cirurgias plásticas, que vende cirurgias como procedimentos fáceis e quase sem riscos, torna-se uma combinação perigosa e explosiva para a nossa saúde.
Para as mulheres, diferente dos homens, o corpo tem sido mais sinônimo de aprisionamento do que de liberdade, sempre vigiado, criticado, julgado. Libertar-se, portanto, desta ideia de um corpo que serve mais ao olhar do outro do que ao nosso próprio olhar é abrir os caminhos necessários para que tenhamos uma existência mais saudável e feliz.
Explante, portanto, não é apenas sobre a remoção das próteses, é um convite a enxergarmos nossos corpos de uma outra maneira, mais generosa e gentil, percebendo sua beleza e sua força para além dos padrões estéticos, levando-nos a celebrar sua função como o instrumento que nos permite experimentar a vida com mais liberdade e plenitude.
Ingrid Gerolimich é socióloga, psicanalista e documentarista. Produziu e dirigiu o documentário “Explante”, que estreia neste dia 8 de março, na sala na Sala Mário Tavares, do Theatro Municipal, com exibição gratuita.