Arte coluna opinião 14 março.jpgArte Paulo Márcio

Com mais de meio século de jornalismo, sinto-me na obrigação de revelar aos mais jovens que o Brasil não era assim quando me iniciei, em 1963, em O Jornal e depois, em 1968, em O DIA. Os políticos, de todos os partidos e tendências ideológicas, eram, na sua maioria, homens de boa formação e faziam a política com elegância e categoria. Não existia radicalismo, nem corrupção, nem grosserias. E havia o decoro da função pública, do exercício do mandato popular e do poder.

Getúlio Vargas nunca foi grosseiro com opositores, embora alvo de inqualificáveis acusações, que o tempo revelou realmente indignas. Aguardou, sereno, o julgamento da história. Seu opositor na eleição de 1950, o
Brigadeiro Eduardo Gomes, que já havia sido derrotado pelo Marechal Dutra, era homem de exemplar dignidade, não se tendo notícia de palavras ou comportamento inadequado. Carlos Lacerda, o mais brilhante
orador e parlamentar, polêmico, agressivo, podia exagerar, mas dentro de seu reconhecido brilhantismo. Não era grosseiro, tosco, deselegante.

Luiz Carlos Prestes foi um homem ameno no trato, sem prejuízo de seu stalinismo, o que, no fim da vida, revelou em elegante debate na TVE com Roberto Campos. Poucas vezes na história republicana se soube de
presidentes usando – e abusando – de palavreado chulo, incompatível com o cargo. A presidente Dilma, segundo dizem, abusava do palavreado de baixo calão, mas não se tem notícia de se comportar desta maneira em público.
Havia no elenco de principais atores da política homens de grande categoria, espalhados em diferentes partidos, como eram os casos de Joaquim Ramos, Negrão de Lima, Amaral Peixoto, Oscar Corrêa, Bilac Pinto, Leopoldo Peres, Magalhães Pinto, Artur Bernardes Filho, Gilberto Marinho, Rubens Berardo, Cunha Bueno, Miguel Couto Filho, Raul Fernandes, Dinarte Mariz, João Mangabeira, Antônio Balbino e tantos outros.

A qualidade das bancadas vem caindo e fugiu ao controle em 2018, com esta safra rica em despreparados, inconvenientes, equivocados e até mal-intencionados. Daniel Silveira e Arthur do Val são dois exemplos entre muitos outros.

Os democratas, de fato, sejam de esquerda, centro ou direita, devem se unir na defesa do rigor na elaboração das chapas e cobrar do TSE cumprimento da lei da ficha limpa, que já falam ser o novo golpe dos que desmontaram a Lava-jato. Não é possível que a democracia pague pelas omissões dos bons. Tem muita gente boa, de todas as tendências, com ou sem mandato. Este é o desafio de outubro aos políticos e, principalmente, ao eleitor, que vota por impulso, sem saber em quem está votando.

O Brasil tem muitos desafios pela frente. O progresso está plantado e visível, caso não se lance o país numa aventura ou na repetição do que não deu certo, mesmo que por diferentes motivos. Precisamos de gente respeitada e respeitável.
Aristóteles Drummond é jornalista