Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação

O governador Cláudio Castro está empenhado em fazer com que a concessão de trens suburbanos e da Baixada atenda melhor a população. O interesse é supostamente também da concessionária, da população do Rio e deve envolver a Prefeitura do Rio, já que as mais de cem estações estão majoritariamente em território municipal.
A intervenção do governador é fundamental, pois os problemas existentes têm relação muito íntima com o poder público e estão incluídos no contexto geral da ordem e segurança. Talvez, o governo federal pudesse participar com programas ligados à integridade da linha férrea, que possui habitações irregulares a centímetros da passagem dos trens, acarretando riscos sérios, inclusive na perda de vida humanas.
A primeira medida elogiável foi a operação da Polícia Militar para a retomada de 12 estações que estavam sob domínio criminoso. Mas seria oportuna uma presença policial nas próprias carruagens, onde a fuga de passageiros, especialmente idosos e mulheres,
têm por motivo a presença de marginais que usam e abusam dos vagões até para venda de drogas, quando não para desrespeito aos mais velhos e às mulheres.
A circulação é frequentemente prejudicada pelo furto de cabos, problema que atinge também as distribuidoras de energia elétrica. Os operadores do setor privado precisam entender a realidade do meio em que atuam e interagir de acordo. Uma operação de guerra se impõe. Uma das irregularidades apontadas se referia ao fechamento de banheiros. Mas como ter banheiros abertos com a barbárie permanente. Um banheiro entregue novo não dura uma semana para ter tudo que seja possível roubado ou vandalizado.
É preciso policiamento publico, pois o privado nestes tempos não pode tocar no depredador senão apanhar dele. A concessão não pode ser devolvida como foi o Galeão, pois reestatizar não vai dar qualidade e sim prejuízo ao tesouro estadual. O maior prejuízo para o Estado e a concessionária é o brutal encolhimento de seus usuários, sobrecarregando outros meios de transportes, mais poluentes e congestionando a cidade. O movimento atual é a metade daquele contabilizado há seis anos e um terço de meio século.
É um dado inadmissível para todo mundo. No regime militar chegou a um milhão de passageiros por dia, pois havia ordem. E só a união de todos pode implementar um projeto que ofereça segurança dentro e fora dos trens, conforto e progresso no entorno de suas estações. Para isso, um mutirão com a participação dos entes públicos e privados. Uma das linhas tem sua mais importante estação na maior concentração militar do Rio, em Deodoro, que poderia ter sua segurança e controle exercida pelos militares do Exército e da Aeronáutica, por exemplo.
Uma oportunidade única esta de termos um governante dando prioridade ao atendimento desta parcela da população usuária dos trens, que pode ser fator positivo na qualidade de vida de cada um e da sociedade como um todo. Antes, tivemos o governo Sérgio Cabral, que permitiu a renovação da frota e até uma delegacia especializada nos crimes contra o patrimônio de concessionárias, incluindo energia e telecomunicações, é justo lembrar. E recuperar relevância não depende da concessionária nem do Estado,
mas sim de uma ação conjunta.

Aqueles que defendem e sempre defenderam a entrega de serviços públicos ao setor privado lamentam que esta falta de sensibilidade e diálogo com a sociedade tenha levado as principais empresas a dificuldades inexistentes quando estatais, como os casos da Telerj – que chegou à situação falimentar –, da Light, que não consegue lucrar e sofre queixas dos consumidores, apesar de inequívocos avanços gerenciais, e da Enel, que presta péssimos serviços à Região Serrana de sua área. Tem problemas práticos que não se abordam com teorias, por melhor que elas sejam. O Brasil é assim.
Aristóteles Drummond é jornalista