Isa Colli é jornalista e escritora Divulgação

O mundo infantil está mais ansioso e depressivo e esse fenômeno está diretamente ligado às consequências do cenário pandêmico. Especialistas em comportamento apontam que a volta às aulas presenciais e o arrefecimento da pandemia de covid-19 serviram de gatilho para esses quadros de ansiedade em crianças e adolescentes.
Pesquisa recente com 642 mil estudantes apresentada pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, constatou que 69% dos alunos da rede pública relataram sequelas na saúde mental. Eles enfrentam problemas como dificuldade de concentração (33%), sentem-se exaustos ou pressionados (18%) e perdem o sono por causa de preocupações (18%).
Eu conversei com algumas professoras que trabalham em escolas públicas e privadas para ver se essa situação é generalizada. E cheguei à conclusão que sim: os relatos são muito parecidos. Foi unânime a percepção de que as crianças estão mais inseguras, querendo tudo pronto e de imediato. Elas não estão sabendo lidar com aquilo que as desestabiliza e, então, esperam que o adulto resolva.
Outro aspecto apontado é a agressividade aflorada. A garotada está apresentando dificuldade de controlar as emoções e se frustra quando as coisas não saem do jeito esperado. São crianças que estão com dificuldades de respeitar regras.
Nesta volta ao convívio na sala de aula, os educadores percebem, ainda, a falta de autonomia e independência para realizar até tarefas mais simples. Muitos também têm medo de voltar a abraçar, beijar e trocar afetos, ou seja, criaram uma barreira que dificulta a ressocialização.
O fenômeno não se restringe ao Brasil. Estima-se que as medidas restritivas impostas pela pandemia afetaram a rotina de 87% dos menores de 18 anos em todo o mundo. Pesquisas em diferentes países, como China e Estados Unidos, mostram que o mesmo quadro de prejuízo à saúde mental se repete entre crianças e adolescentes.
A conclusão é que, assim como o início da pandemia provocou ansiedade, seu arrefecimento também provoca. É preciso estar atento a sintomas como coração acelerado, falta de ar, tristeza, isolamento, crises de choro, tremores, sudorese, preocupações persistentes e fobias.
Nos casos mais graves, a criança ou adolescente chega ao ponto de não querer mais frequentar o colégio. O conselho aos pais é sempre manter o diálogo com a escola e buscar ajuda de especialistas quando necessário.
A pandemia deixou muitas lacunas nas nossas vidas. Se para os adultos já é difícil retomar a rotina sem prejuízos emocionais, imagine para as crianças e os adolescentes. Recuperar esses espaços vazios pode levar um bom tempo. Eles precisam de ajuda.
Isa Colli é escritora e jornalista