Denisson D'Angilesdivulgação

Estamos diante da pior crise humanitária dos tempos modernos, milhões de pessoas enfrentam diariamente necessidades básicas com a falta de acesso à alimentação. O risco de fome atinge patamar recorde no Brasil e ameaça 36% das famílias. Desde 2006, que o país não tem um nível de insegurança alimentar pior que a média de 120 nações (dados apresentados recentemente pelo Centro de Políticas Sociais FGV Social).

A fome aumentou ao redor do mundo diante dos impactos econômicos provocados pela pandemia da covid-19, mas a situação se tornou particularmente grave no Brasil: com uma assustadora parcela de brasileiros que não teve dinheiro para alimentar a si ou sua família, tendo como base os últimos 12 meses. É também a primeira vez que o nível de insegurança alimentar no país supera a média mundial.

O retrato da fome foi esculpido por esses desgovernos. Um legítimo escárnio. A volta da insegurança alimentar e a diversidade de alimentos confirma a consequência do empobrecimento da população brasileira que concerne um esforço extra e urgente no combate à fome no Brasil. Ao alimentar-se apenas uma vez por dia, se assume contornos políticos, muito mais do que mera satisfação de necessidades nutricionais. Alimentar-se é um ato social e complexo, um direito social previsto constitucionalmente, fruto de intenso trabalho e articulação nacional e internacional, contudo não garantido.

Não creio que haja ninguém a favor da fome no mundo. Se perguntássemos para todos os habitantes do planeta - quais são as coisas que eles eliminariam da face da terra? Em outros tempos, a resposta seria o fim das guerras e da violência. Em tempos atuais, a fome no mundo seria, sem dúvida, a resposta exata.
Contudo, no que tange efetivamente o combate à fome, a sociedade civil é praticamente a única que assume a linha de frente, mesmo sem apoio e recursos e executam ações humanitárias que protegem a vida e a dignidade da população, mas é preciso mais, muito mais. Diante deste panorama é necessário pensar: o que acontece se não agirmos agora para resolver as causas dessa situação de emergência alimentar? E se fosse eu na fila para receber doações ou até mesmo passar o dia sem um prato de comida? Se a situação piorar, previsível colapso por sinal, o preço que pagaremos como humanidade será muito maior.
Diante de tantas incertezas e temores, ainda temos tempo de impedir um futuro desastre no Brasil, que hoje sofre uma gravíssima crise, já com de proporções irreparáveis. Falo com propriedade, há anos fazendo trabalhos humanitários, deparo com uma realidade desoladora, com jovens, crianças, anciãos, pais e mães de família, em um nível alto de pobreza. Antes, a compaixão era meu norte, hoje, os sintomas são velozes, a ação tomou outro rumo: combater à fome no dia a dia, propriamente dita.

O aumento no número de brasileiros passando fome é angustiante. Se trabalharmos juntos, estaremos em condições de deter esse avanço vertiginoso em direção ao abismo. Temos que reivindicar, pôr a mão na massa, mobilizar, exigir mudanças e ações urgentes. Receio por algo muito pior, a ameaça é iminente.
Denisson D'Angiles - Instituto CÉU Estrela Guia e CÉU Pela Vida