opina15julARTE KIKO

I
Isa Colli Escritora e jornalista
No Mês da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha trago uma reflexão sobre racismo e injúria. Me sinto muito à vontade em falar sobre esse tema porque, embora tenha a pele clara, herdei muitas características do meu falecido pai, que era negro. E tenho muito orgulho da minha ancestralidade.

O que me espanta é perceber que, em pleno século 21, ainda tenhamos que nos deparar com histórias de preconceito, inclusive com crianças. A pequena Duda, miss Minas Gerais Kids, de apenas 4 anos, foi alvo de racismo nas redes sociais nos últimos dias. Em uma publicação do perfil oficial da garotinha, um comentário apontou que o cabelo dela era feio, mas que tem rosto bonito. Como pode tamanha crueldade?

Para evitar que comentários como esse se naturalizem, muitas negras e negros lutam diariamente. Todo o mês de julho é voltado a essa conscientização. Mas o dia 25 é a data principal, em que se dá visibilidade especial na luta contra o racismo, o machismo e a discriminação de classe que vitimizam de maneira mais cruel as mulheres negras.

O resultado do Atlas da Violência 2021, do Ipea, só reforça essa realidade. A pesquisa mostra que 66% de todas as mulheres assassinadas no país são negras. E 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha de pobreza, segundo o IBGE. Asnegras continuam na base da pirâmide da desigualdade de renda no Brasil, recebem menos da metade do salário de homens brancos e bem menos que as mulheres brancas. Elas são as principais vítimas do feminicídio, da violência doméstica e de mortalidade materna, aponta a Agência Senado.

O Pará foi o primeiro estado do Brasil em casos de injúria racial, representando 36,8% do total de casos registrados no país, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O segundo é Santa Catarina, com 32% dos casos. O levantamento se baseia nas informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública dos estados e pelas polícias militar, civil e federal.

Em São Paulo, de janeiro a abril deste ano, as denúncias de racismo e injúria racial dispararam, ultrapassando o total contabilizado ao longo de todo o ano passado, segundo dados da Ouvidoria da Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania de São Paulo.

Essa luta não pode ser isolada. Nós, mulheres negras, temos de nos levantar todos os dias para vencer o racismo. Só assim, podermos evitar que outras Dudas sejam vítimas do preconceito. Esse tipo de comportamento é inadmissível.
*Isa Colli é escritora e jornalista