José Alexandre Altahyde Hage: A ideia de decadência ocidental
A questão atual é saber se esse exemplo ainda tem validade ou vontade de persistir frente aos desafios, sobretudo aos países em desenvolvimento.
José Alexandre Altahyde Hage é professor do Departamento de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen/Unifesp) — Campus Osasco - divulgação
José Alexandre Altahyde Hage é professor do Departamento de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen/Unifesp) — Campus Osascodivulgação
Entre 1918 e 1924 o filósofo alemão Oswald Spengler publicou seu famoso livro ‘A Decadência do Ocidente’. A ideia do autor era a de que na Europa havia duas proposições: a sociedade do conforto e sua contradição, que aceleraria seu declínio. Por sociedade do conforto Spengler compreendia aquela que havia conseguido superar grande parte das dificuldades de sobrevivência em virtude de avanços econômicos e tecnológicos.
Isto porque o ser humano não mais desapareceria da face da terra, visto que havia criado a agricultura regular, a pecuária e a exploração de recursos naturais. Exceto em situações muito graves, fora do controle, o ser humano não mais morreria de fome ou por causa de intempéries, ao menos na Europa e em algumas partes fora dela, como Estados Unidos, Austrália e Japão.
Por outro lado, os estragos provocados pela Primeira Guerra Mundial indicariam que a Europa, ou o princípio de Ocidente, entraria em crise pelo motivo de seu progresso não suportar a crise da civilização que havia promovido avanços tão salutares. Ou seja, a sociedade do conforto é resultado da civilização ocidental, mas, paradoxalmente, é justamente esse tipo de civilização que aceleraria a decadência europeia.
O declínio do hemisfério, que se avolumaria com a Segunda Guerra Mundial, poderia retroceder, mas não desaparecer. Mesmo que as duas guerras mundiais tenham prejudicado muito as sociedades ocidentais, os progressos técnicos e econômicos conseguiram imprimir uma era de bem-estar social e, dentro de certos aspectos, do pleno emprego. Essas sociedades avançadas vêm se mantendo a duras penas, apesar das reformas institucionais, dos Estados europeus, que para manterem seus padrões necessitam despender cada vez mais recursos econômicos e energéticos.
Apesar de tudo, o hemisfério ocidental havia se tornado referência para o progresso mundial. A questão atual é saber se esse exemplo ainda tem validade ou vontade de persistir frente aos desafios, sobretudo aos países em desenvolvimento.
O problema básico que leva o mundo a desconfiar da missão histórica do Ocidente, em sua virtude política, pode ser encontrado em dois itens: a apatia pela qual a Europa passa em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia; e a perda de vigor que os Estados Unidos têm demonstrado, não somente com a atual guerra europeia, mas também com relação ao assédio que a China faz sobre Taiwan. Os impasses não são necessariamente iguais.
A apatia europeia pode ser vislumbrada no modo de vida pela qual boa parte de sua população adota: apego a uma visão pós-nacional, centralização de poder na União Europeia, adoção de sugestões energéticas sem fundamento estratégico (caso da energia verde), multiculturalismo sem preparo político e estilo de vida que privilegia o conforto em detrimento dos tradicionais valores espirituais populares, fundadores do princípio da civilização ocidental.
Embora possam ser temas abstratos para determinados públicos, a questão ocidental retorna para, ao menos, alimentar debate que ainda permeia parte das Ciências Sociais que se debruça sobre a sorte do pensamento político europeu, e norte-americano, e sua influência em escala internacional, seja para amparar formas de governo, democracia, ou para conformar ordem global que seja baseada na razão e no mérito do Direito Internacional.
José Alexandre Altahyde Hage é professor do Departamento de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen/Unifesp) — Campus Osasco
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