“A meu ver, feminista é o homem ou a mulher que diz: ‘Sim, existe um problema de gênero ainda hoje e temos que resolvê-lo, temos que melhorar.’ Todos nós, mulheres e homens, temos que melhorar.”
(Chimamanda Ngozi Adichie, no livro 'Sejamos todos feministas')

A Global Citizen (GC), com sede em Nova York e escritórios em vários países, tem um objetivo ousado: acabar com a extrema pobreza no planeta até 2030. Para tanto, concentra seus esforços em três questões: a fome, as mudanças climáticas e a desigualdade. Detenhamo-nos nesse terceiro item.
A GC considera a almejada igualdade de forma ampla, de modo que sejam contempladas todas as pessoas em situação de desvantagem social, o que inclui as mulheres. Por isso, advoga ações pelo empoderamento feminino.
A organização reputa que essas ações precisam contar com o maior número de adesões. Nessa linha, incentiva a participação de homens na construção de uma sociedade baseada na isonomia. A respeito, um dos artigos publicados em seu site indica “13 famosos que orgulhosamente defenderam a igualdade de gênero”, ali apontando os feitos de cada.

Vejamos quem são: os primeiros-ministros Abiy Ahmed (Etiópia), Justin Trudeau (Canadá) e Alexander De Croo (Bélgica); os ex-presidentes dos EUA Jimmy Carter e Barack Obama; Antonio Guterres, secretário-geral da ONU; o ator Benedict Cumberbatch; o jogador de basquete Stephen Curry; o Príncipe Harry; Andrew Cuomo, ex-governador do estado de Nova York; o empresário e magnata Bill Gates; Eddie Vedder, integrante da banda Pearl Jam; e o cantor e compositor John Legend.

Famosos ou não, homens que se posicionam pelo empoderamento feminino por vezes se defrontam com questionamentos sobre sua legitimidade quanto ao tema. Fato é que, em se tratando de questão social, não há feudo de luta. Diferente fosse, só o escravizado lutaria pela abolição. Da mesma forma, só quem fosse judeu ou de minoria alvo do nazismo lutaria contra o holocausto.
Escravidão, holocausto, preconceitos e desigualdades têm em comum a subjugação – sempre fundida em ódio – de um grupo por outro. Por isso, todas essas questões acabam por envolver direitos humanos. Daí a necessidade coletiva de que essas iniquidades, pretéritas ou atuais, sejam enfrentadas e, para salvaguarda das gerações futuras, jamais esquecidas.
O objetivo da GC, como dito, é ousado, seja pela amplitude de ações necessárias, seja pela proximidade do ano 2030. É difícil, mas não é impossível e tentar, cabe a nós. Aliás, como a própria entidade antecipa, a chance de sucesso depende da participação do maior número pessoas.
Assim – e seguindo a dica de Chimamanda –, é fundamental que homens e mulheres, tornando-se melhores, marchem ombreados contra a escuridão que é a ignorância de gênero, iluminando um porvir de esperança e justiça social, único caminho para que, nesse tempo futuro, a desigualdade seja encontrada apenas nos livros de história.
*Wagner Cinelli de Paula Freitas é desembargador do TJRJ