Se pensarmos na nossa trajetória escolar, ao longo das décadas aprendemos que no dia 13 de maio de 1888 acabou a escravidão no Brasil. O fato se deu porque a princesa Isabel assinou a lei Áurea. Esta história contada e recontada principalmente nas salas de aula nos fez acreditar em uma redentora das pessoas negras escravizadas no nosso país.
Mas não nos contam que havia uma questão econômica e política envolvendo a Inglaterra que forçou o fim da abolição da escravatura. Também não nos contam que tiveram lutas das pessoas negras pelo fim da escravidão. Ignoram o fato de não ter existido políticas públicas para acolher as pessoas negras libertas.
Estas ausências de fatos históricos tornam o acontecimento algo passivo por parte das pessoas negras mediante um gesto libertador protagonizado pela princesa. Sempre é necessário que haja ações, atividades, debates, eventos diversos para lembrar as lutas das pessoas negras contra o racismo e contra a opressão.
Atividades evolvendo, por exemplo, discussões sobre dados educacionais que mostram uma lacuna de acesso e permanência de crianças e jovens negros nas escolas, estudos que comprovam índices alarmantes de violência contra a população negra, pesquisas sobre o papel das mulheres negras na sociedade, o apagamento das histórias africanas, barreiras de acesso de pessoas negras em cargos de poder, desemprego, preconceito contra as religiões de matrizes africanas, entre outros.
Além disso, enfatizar e reforçar políticas públicas frutos de lutas do Movimento Negro como as cotas raciais, a lei que obriga o ensino da História da Cultura Africana e Afro-brasileira nos currículos escolares, mudanças nos livros didáticos que combatam preconceitos, entre outros.
Todos são temas que buscam provocar questionamentos que envolvem a desigualdade e o racismo presente na nossa sociedade.
É importante sempre lembrar da resistência do Movimento Negro e mostrar que a história contada tem outras versões, além disso que é urgente a consciência sobre os dados de pesquisas e as ações que envolvem políticas públicas. A luta é que tais políticas sejam mantidas e outras efetivamente postas em prática.
*Janaína de Azevedo Corenza é professora de Histórias e Culturas Africanas e Afro-Brasileiras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RJ